Alunos que não gostam de ler têm melhores resultados em prova de leitura
16 de mai. de 2023, 08:33
— Lusa/AO Online
Ter muitos livros em
casa, os pais terem formação superior e pertencer a uma família de
estatuto socioeconómico elevado são algumas das características
habitualmente associadas ao sucesso académico dos alunos, mas o PIRLS
2021 (Progress in Internacional Reading Literacy Study) hoje divulgado
mostra novas relações. O estudo
internacional que nos últimos 20 anos tem avaliado a literacia em
leitura revela agora que não existe uma associação positiva entre o
índice “Gosto pela leitura” e os resultados médios dos portugueses nos
testes.Os alunos que disseram não gostar de ler tiveram melhores resultados do que os colegas que afirmaram que gostavam muito de ler.Este
resultado fez o ministro da Educação alertar para o modelo de ensino do
Português e dos testes e provas nacionais, lembrando a história de um
professor universitário de linguística que lamentava o facto de “o filho
ter tido 18 valores no exame de Português sem nunca ter lido os Maias”.
Também a comissária do Plano Nacional de
Leitura, Regina Duarte, defendeu que em vez de “ter alunos que sabem
repetir fórmulas de livros” é preciso voltar a ter “alunos que sabem
avaliar a informação mesmo quando os textos ou as perguntas são
colocadas de forma diferente”. A
comissária criticou um sistema que “torna os alunos muito competentes,
mas os afasta do prazer de explorar livros de forma muito pessoal”.Certo
é que quem lê mais horas tem melhores resultados, mas são poucos os que
ficam muito tempo agarrados a um livro, diz o PIRLS.Quase
metade dos alunos (48%) lê menos de 30 minutos por dia, sendo que as
crianças portuguesas que se destacaram no PIRLS liam entre uma a duas
horas diariamente.Frequentar um colégio em
vez de uma escola pública, ter quarto próprio e ligação à internet ou
pais muito envolvidos na vida escolar também fizeram diferença nos
resultados das provas realizadas no final do ano letivo de 2021 a mais
de oito mil alunos portugueses do 4.º ano.O
estudo destacou ainda o efeito positivo de ter muitos livros em casa.
No entanto, mais de metade dos alunos (62%) tem apenas entre 11 e 100
livros e há mesmo muitas crianças que têm menos de dez livros.Além
de avaliar as capacidades de leitura e interpretação dos alunos numa
altura em que já “aprenderam a ler” e passam a “ler para aprender”, o
PIRLS fez três inquéritos distintos a estudantes, pais e professores.No
questionário realizado aos pais estes disseram que cerca de 85% dos
alunos ficaram em casa durante a pandemia, sendo que dois em cada três
consideraram que houve um impacto negativo na aprendizagem dos filhos.O
estudo mostrou ainda que os alunos que não realizaram atividades online
durante o confinamento acabaram por ter piores resultados no PIRLS.Por
outro lado, os pais que conseguiram disponibilizar recursos adicionais
podem agora confirmar que esse esforço se traduziu em melhores
resultados em relação aos alunos sem apoio dos pais.O
PIRLS 2021 mostra que as capacidades de leitura e interpretação dos
alunos portugueses do 4.º ano se mantiveram praticamente inalteradas
entre 2016 e 2021, mas os resultados médios dos alunos fez com que
Portugal subisse ligeiramente na tabela comparativa de países.Os
portugueses surgem agora em 22.º lugar numa lista de 43 países, quando
em 2016 estavam em 30.º lugar numa lista de 50 participantes, segundo o
estudo da agência independente International Association for the
Evaluation of Educational Achievement.As
crianças que fizeram a prova em papel melhoraram ligeiramente em relação
a 2016 (subida de três pontos), mas nas provas digitais os resultados
médios baixaram oito pontos (numa escala de zero a mil).Em
Portugal, o PIRLS foi aplicado logo após o segundo confinamento e
período de ensino a distância, que decorreu entre janeiro e março de
2021. O PIRLS realiza-se periodicamente de cinco em cinco anos.