Alunos bloqueiam entrada da escola António Arroio pelo fim dos combustíveis fósseis
10 de nov. de 2022, 17:29
— Lusa/AO Online
Os
alunos estão desde segunda-feira a ocupar a escola, num protesto que se
repete em outras cinco escolas e faculdades da capital com uma
reivindicação comum: o fim dos combustíveis fósseis.Hoje,
os alunos decidiram bloquear o acesso à escola por sentirem que as suas
reivindicações não estavam a ser ouvidas, explicou à Lusa no local a
porta-voz da greve climática estudantil, Alice Gato, mas, apesar disso, a
direção decidiu não chamar as autoridades.Ao
início da manhã, os portões da escola foram fechados e dezenas de
estudantes barricaram-se no interior, com algumas ativistas coladas à
porta da entrada principal, impedindo que alguém por ali entrasse.Por causa do bloqueio, não houve aulas durante a manhã.Pelas
11:00, havia cerca de uma centena de alunos sentados em frente à
escola, do lado de fora dos portões, enquanto lá dentro se concentravam
outros tantos, que entravam e saíam saltando os muros.Entretanto,
a banda sonora do protesto compunha-se ao som de tambores e cânticos
como "ocupa Arroio" ou “gás, petróleo, carvão, deixá-los no chão”.“Neste
momento, (os alunos) perceberam que não estavam a ser ouvidos e
decidiram fechar a escola. Porquê estarmos a ter aulas por um futuro que
não vai existir se estas reivindicações não estão a ser ouvidas?”,
questionou Alice Gato, para justificar a ação.Estes
estudantes, como os de outras escolas que aderiram ao movimento
internacional “End Fossil Occupy!”, defendem o fim da exploração dos
combustíveis fósseis até 2030, mas pedem também a demissão o ministro da
Economia e do Mar, António Costa Silva, que em maio afirmou “não ter
‘parti pris’” (preconceitos) com projetos de exploração de gás.Pela
direção da escola, o diretor Rui Madeira disse, em declarações aos
jornalistas, que está a acompanhar o protesto e, apesar de admitir que
os estudantes ultrapassaram “linhas vermelhas” ao bloquearem o acesso á
escola, não chamaria as autoridades ao local.“Não
podemos ser coniventes, porque temos um papel institucional a cumprir,
mas há uma coisa que é verdade. É que daqui tem de se tirar uma
aprendizagem e, mesmo não havendo aulas, espero que aprendam alguma
coisa e que, por fim, se consciencializem que há muitos alunos que estão
do mesmo lado quando ao fim, apenas contra os meios”, afirmou.O
diretor da escola assegurou ainda que a segurança dos alunos era uma
prioridade da escola, e por isso a escola apoiou os estudantes que desde
segunda-feira ali têm pernoitado, e acrescentou que tenciona
desbloquear a situação, mas sem pôr em causa as relações futuras com os
estudantes.“Nós nunca estaremos contra
alunos que querem um mundo melhor”, disse Rui Madeira, considerando
também que se este bloqueio é exemplo único entre as seis escolas e
faculdades atualmente ocupadas em Lisboa, “só pode ser porque é a melhor
escola”.“É um sítio de liberdade”,
sublinhou, acrescentando que a escola promove a liberdade para que “as
crianças se tornem homens e mulheres do futuro”.Durante
o protesto na escola António Arroio, um grupo de cerca de 20 alunos
ativistas subiu ao telhado da escola, onde acabou por ficar retido após o
diretor decidir cortar os acessos, segundo Alice Gato.Sob
um sol quente pouco habitual no mês de novembro, lideravam os gritos e
cânticos reivindicativos, quando mais uma dezena de alunos se juntou a
eles, tendo subido através de um escadote colocado junto a uma das
paredes do edifício.Junto ao portão da
escola, Matilde Santos, aluna da António Arroio, confirmou as motivações
dos ativistas: “A manifestação tinha de escalar, porque não estávamos a
ser ouvidos por todos, muito menos por alguns professores. Assim temos a
certeza de que somos ouvidos”.Além desta
escola, desde segunda-feira que estudantes ocuparam também o Liceu
Camões, e as faculdades de Ciências Sociais e Humanas da Universidade
Nova de Lisboa, de Letras e de Ciências da Universidade de Lisboa, e o
Instituto Superior Técnico (IST).Segundo
Alice Gato, os protestos mantêm-se nas seis instituições, ainda que em
tons diferentes, com uma mobilização mais significativa nas duas escolas
secundárias, onde têm dormido, nos últimos dias, várias dezenas de
alunos.No IST, a direção ameaçou chamar as autoridades ao local caso a ocupação se mantivesse, relatou a porta-voz.“A ideia é ocuparmos até vencermos ou até sermos retirados”, concluiu.