Alto-comissário da ONU para Direitos Humanos assume funções já com críticas
17 de out. de 2022, 14:05
— Lusa/AO Online
Embora
tenha sido uma nomeação que já se esperava que o secretário-geral da
ONU, António Guterres, fizesse – já que os dois são bastante próximos –
várias vozes se levantaram para considerar este advogado austríaco, de
57 anos, pouco hábil para o novo cargo.Uma
dessas vozes foi a do ex-diretor da organização não-governamental (ONG)
Human Rights Watch Kenneth Roth, que considerou, num artigo de opinião
publicado na revista Foreign Policy, que a ONU “deu a um diplomata sem
chama o trabalho errado”.Para Roth, Volker
Turk “não tem temperamento para ser o líder dos direitos humanos das
Nações Unidas” e a sua escolha “corre o risco de se tornar a mais
dececionante do secretário-geral da ONU, António Guterres”.Também
o diretor-executivo da ONG Serviço Internacional para os Direitos
Humanos (ISHR, na sigla em inglês), Phil Lynch, considerou que a escolha
do novo Alto-comissário foi “uma oportunidade perdida” para as Nações
Unidas, enquanto a investigadora de Relações Internacionais da
Universidade de Sussex no Reino Unido, Anne Brendan, explicou à Lusa que
o facto de Turk ser muito próximo de Guterres cria a ideia de que pode
ser controlado ou mesmo tornar-se “uma marioneta”.Turk tem, no entanto, uma longa experiência nas Nações Unidas.O
austríaco, que se tornou secretário-geral adjunto da ONU para os
assuntos políticos em janeiro de 2022, passou a maior parte da sua
carreira nos quadros das Nações Unidas, em particular no Alto
Comissariado para Refugiados (ACNUR), onde trabalhou em estreita
colaboração com Guterres (2005-2015), quando este dirigiu esse organismo
agora tutelado por Filippo Grandi.Entre
2019 e 2021, Turk assumiu as funções de secretário-geral adjunto para
Coordenação Estratégica no Gabinete Executivo da ONU e, anteriormente
tinha sido Alto-comissário adjunto para a Proteção dos Refugiados na
Agência da ONU para Refugiados, em Genebra.Nos quatro anos anteriores, tinha ainda desempenhado um papel fundamental no desenvolvimento do Pacto Global sobre Refugiados.Doutorado
em Direito Internacional pela Universidade de Viena e mestre em Direito
pela Universidade de Linz, na Áustria, Turk assume o posto numa altura
em que a área dos Direitos Humanos enfrenta problemas graves e sérios
desafios, desde as proibições impostas às mulheres no Afeganistão até
aos crimes de guerra na Ucrânia, passando pelas denúncias de genocídio
da minoria muçulmana uigur na China ou o racismo policial nos Estados
Unidos, entre muitos outros casos presentes em todos os continentes.As
maiores organizações de defesa dos direitos humanos do mundo, a
Amnistia Internacional e a Human Rights Watch (HRW), pediram-lhe
diretamente para que “seja ousado” e “enfrente os países mais
poderosos”.“A sua voz em defesa das
vítimas de violações de direitos em todo o mundo deve ser alta e clara:
essas vítimas estão a contar com ele para enfrentar os agressores, mesmo
que sejam Estados poderosos”, alertou a Amnistia, em comunicado.Por
sua vez, a HRW sublinhou que “o que os milhões de pessoas cujos
direitos são violados diariamente precisam é de um advogado que esteja
ao seu lado e enfrente governos abusivos, grandes ou pequenos, sem medos
e sem hesitações”.