Alto-comissário da ONU adverte contra políticos populistas
Migrações
9 de set. de 2024, 11:53
— Lusa/AO Online
Intervindo
na abertura da 57ª sessão ordinária do Conselho de Direitos Humanos das
Nações Unidas, que decorrerá até 11 de outubro em Genebra, Suíça,
Volker Türk, ao fazer a tradicional atualização do relatório anual sobre
a situação dos direitos humanos no mundo, defendeu que a classe
política deve zelar pela sua salvaguarda, mas apontou que muitas vezes
ocorre o oposto.“Há os políticos,
amplificados por alguns meios de comunicação social, que fazem dos
migrantes, dos refugiados e das minorias bodes expiatórios, como vimos,
por exemplo, em períodos eleitorais na Áustria, em França, na Alemanha,
na Hungria, no Reino Unido e nos Estados Unidos da América, para citar
alguns”, apontou.Segundo o responsável das
Nações Unidas, estes políticos “capitalizam a ansiedade e o desespero,
colocando uns contra os outros, procurando distrair e dividir”. “A
História tem-nos mostrado que palavras odiosas podem desencadear ações
odiosas. Uma liderança política assente nos direitos humanos e num
debate baseado em provas é o antídoto para tudo isto. Esta é a única
forma de enfrentar os verdadeiros desafios que as pessoas enfrentam em
áreas como a saúde, a habitação, o emprego e a proteção social”,
defendeu.Quase a cumprir metade do seu
mandato de quatro anos, o alto-comissário sustentou que a humanidade
vive atualmente “numa bifurcação”, precisando de escolher entre um
“despertar e mudar as coisas para melhor”, ou aceitar “um «novo normal»
traiçoeiro” e caminhar “sonâmbula para um futuro distópico”.“O
«novo normal» não pode ser uma escalada militar interminável e viciosa e
métodos de guerra, controlo e repressão cada vez mais horríveis e
tecnologicamente ‘avançados’. O «novo normal» não pode ser […] a
disseminação gratuita de desinformação, sufocando os factos e a
capacidade de fazer escolhas livres e informadas [nem a] retórica
inflamada e soluções simplistas, que eliminam o contexto, as nuances e a
empatia, abrindo caminho para o discurso de ódio e para as
consequências terríveis que inevitavelmente se seguem”, declarou.Advertindo
também que o «novo normal» não pode ser “o descrédito das instituições
multilaterais ou as tentativas de reescrever as regras internacionais,
destruindo as normas universalmente acordadas”, Volker Türk apelou a
que, coletivamente, se faça “a escolha de rejeitar o «novo normal» e o
futuro distópico que ele apresentaria” e “abraçar e confiar no pleno
poder dos direitos humanos como o caminho".Durante
esta 57ª sessão, que se prolonga por cinco semanas, o Conselho de
Direitos Humanos das Nações Unidas passará em revista os
desenvolvimentos em matéria de direitos humanos a nível mundial.Na
próxima semana, debaterá a instabilidade na Venezuela na sequência das
eleições presidenciais de 28 de julho, com a agenda a prever, como já
tem ocorrido nas anteriores sessões, discussões sobre os efeitos das
operações militares da Rússia na Ucrânia e de Israel na Faixa de Gaza.