“Alterações climáticas não se combatem com obras de engenharia, mas com ordenamento do território e plantação de árvores”
28 de jul. de 2024, 09:15
— Ana Carvalho Melo
Teófilo José Soares de Braga nasceu na Ribeira Seca, Vila Franca do
Campo, uma localidade que, à época, era um lugar da freguesia de São
Miguel. Filho de Teófilo de Braga, agricultor e emigrante no Canadá
durante dez anos, e de Ursulina Soares, doméstica, Teófilo Braga cresceu
num ambiente humilde, ainda que reconheça que era, de alguma forma,
privilegiado em relação aos seus vizinhos devido ao trabalho e esforço
dos seus pais.A infância de Teófilo foi marcada pelo trabalho no
campo, principalmente nas colheitas de uvas, o que desde cedo despertou
nele um profundo apreço pela natureza. “Desde criança, habituei-me a ir
para as terras, sobretudo para as colheitas, principalmente, a apanha
das uvas. Por isso, a minha forte ligação ao campo e à natureza”,
recorda.Ávido leitor, a formação académica de Teófilo Braga foi
impulsionada por um gosto precoce pela leitura, um hábito que, embora
não fosse habitual na sua família, enriqueceu a sua vida e abriu portas
para um futuro educacional sólido. “Foi através da Biblioteca
Itinerante da Fundação Calouste Gulbenkian, que parava no largo, num dos
extremos da minha rua, que comecei a ler. Ainda hoje, grande parte do
meu tempo é ocupado com a leitura. Foi um hábito que adquiri muito
jovem”, relata.Após concluir o antigo sétimo ano na Escola
Secundária Antero de Quental, Teófilo Braga enfrentou um dilema comum a
muitos jovens da sua época: a decisão de prosseguir estudos no
continente, dificultada pelas instabilidades do período pós-25 de Abril e
pelas limitações financeiras familiares. Acabou por permanecer nos
Açores, tendo-se inscrito na Escola do Magistério Primário, embora não
encontrasse ali a sua verdadeira vocação. Com a abertura do Instituto
Universitário dos Açores, ingressou no curso de Matemática, Física e
Química, escolhendo finalmente a especialização em Físico-Química. Esta
escolha deu início à sua carreira como professor, onde pôde combinar o
seu amor pela ciência com o seu crescente interesse pela conservação
ambiental.Teófilo Braga foi fortemente influenciado por figuras como
o engenheiro Duarte Furtado e o Doutor Gerald Le Grand, com quem
colaborou na atividade do Núcleo Português de Estudos e Protecção da
Vida Selvagem, Delegação dos Açores, na década de 1980. Esta associação,
pioneira em questões ambientais nos Açores, publicou o boletim “Priolo”
e destacou-se na redescoberta e proteção do priolo, uma ave endémica da
região.Ao longo da sua vida, Teófilo Braga esteve ativamente
envolvido em várias associações ambientais, como a Luta Ecológica em
Angra do Heroísmo, os Amigos da Terra Açores, fundada em janeiro de 1984
e que mais tarde se tornaria Amigos dos Açores, e o Núcleo Regional dos
Açores da Íris - Associação Nacional de Ambiente. Mas as suas
atividades não se restringiram ao ativismo; Teófilo Braga também
contribuiu significativamente para a formação de professores e a
sensibilização ambiental entre os jovens.Aposentado, Teófilo Braga
dedicou-se a um projeto ambicioso e visionário: a plantação de mais de
1500 plantas nativas e endémicas no seu terreno na Ribeira Seca. Este
projeto, iniciado com a plantação de 1300 plantas no primeiro ano e mais
300 no segundo, visa reintroduzir e valorizar a flora primitiva dos
Açores. Para Teófilo Braga este é um legado a longo prazo, uma
contribuição essencial para a conservação ambiental que vai além da sua
própria vida. “O objetivo global é a longo prazo. António Borges
possivelmente não viu o seu jardim com as plantas adultas, nem José do
Canto ou José Jácome Correia. Eu não me comparo com eles em termos de
posses, mas com certeza que também não vou ver as plantas no auge da sua
vida. O que me interessa é tentar criar a floresta que existia nos
Açores, quando foram descobertos. Será o meu contributo para combater as
alterações climáticas, porque não é com obras de engenharia, com mais
muros ou fossas, que se combate as alterações climáticas, mas com a
alteração do ordenamento do território e com a plantação de árvores”,
defende.Paralelamente ao seu trabalho ambiental, Teófilo Braga
publicou vários livros dedicados ao ambiente e à história da Região,
refletindo o seu contínuo interesse pela história e pela luta por
justiça social.Contudo, Teófilo Braga não esconde a sua desilusão
com a sociedade e a política atuais. O ambientalista sente que, apesar
de haver uma maior consciência ambiental, os esforços para a conservação
são frequentemente minados por políticas públicas inadequadas e pela
influência dos interesses económicos. “Os poderes económicos e as
tecnologias são capazes de fazer alterações na natureza e no ambiente
que antes não eram possíveis“, lamenta, acrescentando considerar que as
políticas públicas falham mais do que as ações individuais e criticando a
falta de compromisso real com a redução de resíduos e a proteção
ambiental.A sua desilusão também se estende ao campo político, dando
como exemplo a sua experiência com petições à Assembleia Regional dos
Açores: “De há um tempo para cá, com a entrada de um partido político,
sinto-me insultado e recuso-me agora a fazer petições.”Apesar do
pessimismo, Teófilo Braga continua a lutar pela causa ambiental, sabendo
que os seus esforços poderão não ser totalmente recompensados em sua
vida. No entanto, vive como um exemplo de como a dedicação à educação e
ao ambiente pode criar um legado duradouro.