Alteração que permite dar aulas com licenciatura pós-Bolonha divide sindicatos
17 de ago. de 2022, 15:12
— Lusa/AO Online
O
ministro da Educação anunciou na sexta-feira que estariam a ser
preparadas alterações ao despacho para habilitações para a docência de
forma a “alargar o leque de candidatos”.Já
no próximo ano letivo os requisitos para as habilitações próprias, que
pressupõem apenas a licenciatura, vão estender-se aos cursos
pós-Bolonha, de acordo com as normas de execução do Orçamento do Estado
publicadas no mesmo dia em Diário da República.Em
reação à alteração, a Fenprof lamentou apenas que não tenha existido
negociação entre o Ministério da Educação e os sindicatos sobre o tema,
mas não contestou que a possibilidade de dar aulas inclua agora também
pessoas com licenciaturas concluídas após o processo Bolonha.“Não
haverá redução do nível de formação exigida se, em relação aos cursos
pós-Bolonha, forem observados os mesmos requisitos que já são tidos em
conta para os pré-Bolonha”, conforme previsto no decreto-lei, escreve a
Fenprof em comunicado.A estrutura sindical
acrescenta que as novas regras também não privilegiam esses
professores, uma vez que as habilitações próprias só serão consideradas
na contratação de escola, a última porta de entrada a que as escolas
recorrem para preencher vagas depois de esgotarem todas as outras
opções.“E, à partida, os que forem agora
considerados (…) também não terão qualquer vantagem face aos que já
podiam ser candidatos”, refere a Fenprof, considerando, por outro lado,
que esta é uma medida avulsa e não responde à fonte do problema da falta
dos professores.“Falta essa que decorre
da crescente quebra de atratividade da profissão, com o consequente
afastamento de milhares de docentes já habilitados profissionalmente e a
fuga dos jovens aos cursos de formação de professores”, sustentam.A
posição da Fenprof não é, no entanto, consensual entre as várias
organizações que representam os professores, com sindicatos a
considerarem que o Ministério da Educação desrespeita a classe docente e
põe em causa a qualidade do ensino.Para o
Sindicato de Todos os Profissionais da Educação, o alargamento das
habilitações próprias à licenciatura pós-Bolonha “agrava ainda mais a
desvalorização da classe docente e simultaneamente degrada de forma
inédita neste século a qualidade pedagógica de quem vai estar nas salas
de aulas”.O sindicato considera também que
a medida vai agravar desigualdades entre diferentes escolas,
designadamente aquelas com maior número de professores com habilitação
profissional, ou seja, com mestrado de ensino, e aquelas com mais
profissionais sem formação pedagógica. Já
o Sindicato Nacional dos Professores Licenciados pelos Politécnicos e
Universidades argumenta que “a docência é uma profissão altamente
especializada” e fala na “reativação de processos de má memória”,
recordando quando podiam dar aulas professores com licenciaturas em
várias áreas, mas sem formação no ensino.Defendendo
também que o tema seja alvo de negociação, o sindicato insiste na
necessidade de “uma política educativa séria que responda eficazmente à
necessidade de recrutar docentes com a adequada formação científica e
pedagógica”.