"Alma Viva", "Mal Viver" e "Viver Mal" no Cine Atlântico nos Açores
26 de out. de 2023, 15:33
— Lusa
A mostra de cinema
português contemporâneo, organizada pelo Cine-Clube da Ilha Terceira,
tem este ano como tema “Retratos de Família” e conta com a presença da
atriz Beatriz Batarda, do crítico de cinema Rui Tendinha e do realizador
Augusto Fraga, entre outros.“Não podemos
trazer muito mais do que cinco filmes, porque os orçamentos não permitem
ir além de cinco, seis exibições. Se há alguma dificuldade a resultar é
da boa qualidade dos filmes e de alguma quantidade que surge”,
adiantou, em declarações à agência Lusa, o presidente do
cine-clube Jorge Paulus Bruno.Reativado há
10 anos, o Cine-Clube da Ilha Terceira promove, além da mostra de
cinema português, a exibição de cinema europeu alternativo, três vezes
por mês, e uma a extensão do CineEco - Festival Internacional de Cinema
Ambiental da Serra da Estrela, que leva a todas as ilhas dos Açores.Segundo
Jorge Bruno, o clube, fundado na década de 1970, desempenha hoje "um
papel importante e que é procurado por um conjunto de interessados em
cinema de qualidade”.“Já estamos a
conseguir fidelizar progressivamente o público. Temos tido imensas
reservas de bilheteira. Estamos convictos de que vamos ter boas casas e,
de ano para ano, temos vindo a constatar que há um interesse crescente,
lento embora, pelos filmes portugueses”, apontou.A
mostra surgiu em 2016, como alternativa a um festival de cinema sobre o
mar, as ilhas, as viagens e as aventuras, com competição, que “continua
na gaveta”. “Não o perdemos por completo,
mas atendendo aos orçamentos e aos apoios que nos são concedidos, por
exemplo, pelo Governo Regional dos Açores, que este ano foi praticamente
insignificante, está muito longe de podermos concretizar um projeto
daquela natureza”, explicou Jorge Bruno.O
presidente do cine-clube continua a defender o potencial dos Açores
na indústria cinematográfica e, por isso, convidou o realizador açoriano
Augusto Fraga a partilhar a experiência de ter rodado a série Rabo de
Peixe, da Netflix, na ilha de São Miguel.Numa mesa
redonda, que antecede a exibição do primeiro filme, na sexta-feira,
participam também o responsável pelo Loulé Film Office, Manuel Baptista,
o jornalista e crítico de cinema Rui Tendinha, o programador da mostra,
José Vieira Mendes, e o ator do filme "Vadio", Rúben Simões.“As
entidades poderiam criar um suporte financeiro para trazermos gente
aqui que viesse a conhecer os Açores, no sentido de perceber que há
condições para rodar filmes. Isso não acontece, mas a verdade é que os
Açores têm um potencial imenso, até ao nível dos custos de produção de
rodagem, que são mais em conta do que em muitos outros sítios”,
salientou Jorge Bruno.O Cine Atlântico
arranca na sexta-feira, na Recreio dos Artistas, em Angra do
Heroísmo, com “Alma Viva”, primeira longa-metragem de Cristèle Alves
Meira, um retrato sobre a tradição, o sobrenatural e as superstições,
que foi indicado pela Academia Portuguesa de Cinema como concorrente de
Portugal à nomeação para Óscar de Melhor Filme Internacional em 2023.No
sábado, é exibido “Vadio”, de Simão Cayatte, que aborda um duro relato
do abandono, seguindo-se “Great Yarmouth Provisional Figures”, de Marco
Martins, que contará com a presença da atriz principal, Beatriz Batarda,
na sala.Estreado na competição do
Festival de San Sebastián em 2022, o filme é um ‘thriller’ sobre a
imigração ilegal portuguesa no Reino Unido, a poucos meses do Brexit.A
mostra encerra no domingo com a exibição de dois filmes de João Canijo,
“Mal Viver”, vencedor do prémio do júri da Berlinale 2023 - Festival
Internacional de Cinema de Berlim, e “Viver Mal”, dois retratos cruéis
da natureza humana, sobre relações familiares, rodados no Hotel Parque
do Rio, em Ofir.