Alimentar planeta exige dieta com menos carne e mais verduras e fruta
17 de jan. de 2019, 19:08
— Lusa/AO online
O
diagnóstico faz parte de um relatório de uma comissão
de especialistas da revista científica Lancet, segundo o qual o planeta
não terá capacidade de alimentar tantas pessoas sem uma transformação
dos hábitos alimentares, uma melhoria na produção e uma redução do
desperdício. E
essa mudança, para o consumo de alimentos mais saudáveis, também vai
evitar a morte prematura de 11 milhões de pessoas em cada ano, reduzindo
a morte de adultos entre 19% e 23,6%. Segundo
os especialistas, uma dieta-padrão saudável e planetária consistirá em
aproximadamente 35% das calorias provenientes de grãos integrais e
tubérculos, em ter nas plantas a principal origem da proteína
(incluindo-se apenas cerca de 14 gramas de carne vermelha por dia), e no
consumo de 500 gramas de vegetais e frutas por dia.É
esta mudança nos hábitos alimentares que levará à diminuição em 50% do
consumo de carne vermelha e açúcar e a um aumento de 50% de consumo de
frutos secos, verduras, legumes e fruta.Esta
mudança, diz-se no relatório, garante um sistema alimentar mundial e
não põe em causa os limites do planeta na produção de alimentos, tendo
em conta por exemplo as alterações climáticas, a perda de
biodiversidade, o uso da terra e da água e o ciclo dos nutrientes.E
essa mudança, segundo o documento, é “urgentemente necessária”, já que
mais de três mil milhões de pessoas sofrem de desnutrição e a produção
de alimentos está a exceder a capacidade do planeta, impulsionando as
alterações climáticas, a perda de biodiversidade e o aumento da poluição
pelo uso excessivo de fertilizantes.O
relatório da Comissão EAT, da Lancet, propõe uma dieta baseada em
alimentos à base de plantas e com pouca quantidade de alimentos de
origem animal, de grãos refinados, comida altamente processada e
açucares.“As
dietas atuais estão a levar a Terra além dos seus limites ao mesmo tempo
que causam problemas de saúde. Tal coloca ambos, pessoas e planeta, em
risco”, diz o documento. Tim
Lang, da Universidade de Londres, um dos membros da comissão, diz que
“os alimentos que comemos e a forma como os produzimos determinam a
saúde das pessoas e do planeta, e atualmente estamos a fazer isto de
forma muito errada”.A
Comissão EAT é um projeto a três anos que reúne 37 especialistas de 16
países, com experiência em saúde, nutrição, sustentabilidade ambiental,
sistemas alimentares, economia e governança política.No
relatório, os responsáveis salientam que o aumento da produção
alimentar nos últimos 50 anos contribuiu para o aumento da esperança de
vida, e para a redução da fome, da mortalidade infantil e da pobreza
global, mas notam que esses benefícios estão agora a desviar-se para
dietas pouco saudáveis, altas em calorias, açucares, amidos refinados e
excesso de carne, e baixo teor de frutas, legumes, grãos integrais,
frutos secos, sementes e peixe.Atualmente,
diz-se no documento, os países da América do Norte comem quase 6,5
vezes mais carne do que o recomendado, enquanto no sul da Ásia se come
metade do que era suposto. Todos os países estão a comer mais vegetais
ricos em amido, como a batata e a mandioca, do que o recomendado, 1,5
vezes mais no sul da Ásia ou 7,5 vezes mais na África subsaariana. No
modelo proposto aumenta-se o consumo de ácidos polinsaturados saudáveis
e reduz-se o consumo de gorduras saturadas, e aumenta-se também a
ingestão de micronutrientes essenciais como o ferro, o zinco, o ácido
fólico, a vitamina A e o cálcio. A falta de vitamina B12 (muito presente
em alimentos de origem animal) poderá ter de ser compensada. Os
autores notam ainda que é necessário descarbonizar mais rápido do que o
previsto o sistema energético, para permitir alimentar 10 mil milhões
de pessoas em 2050 sem produzir mais gases com efeito de estufa. E que é
preciso reduzir a perda de biodiversidade e o uso de fósforo
(fertilizantes) e não aumentar o uso de azoto (em fertilizantes também).E
propõem que sejam criadas políticas para encorajar as pessoas a
escolher dietas saudáveis, restrições de publicidade e campanhas de
educação. Depois os preços dos alimentos devem refletir os custos de
produção, mas também os custos ambientais, pelo que pode haver aumento
dos custos para consumidores, podendo ser necessárias políticas de
proteção social.E
o desperdício alimentar deve ser reduzido pelo menos a metade. Notam os
responsáveis que esse desperdício acontece em países pobres durante a
produção, devido a mau planeamento, falta de acesso a mercados e falta
de estruturas de armazenamento e processamento. Nos
países ricos o desperdício é causado sobretudo pelos consumidores e
pode ser resolvido com campanhas que melhorem hábitos de compra, o
entendimento dos rótulos, e o armazenamento, preparação, proporções e
uso de sobras.A
Lancet lançará este ano vários relatórios, o próximo, no final do mês,
será sobre obesidade, desnutrição e alterações climáticas.