Alimentação produz impactos na fertilidade que podem ser herdados por duas gerações
18 de jul. de 2022, 20:06
— Lusa/AOonline
Em
comunicado, o instituto revela hoje que no estudo, publicado na revista
"Molecular Nutrition & Food Research", os investigadores da Unidade
Multidisciplinar de Investigação Biomédica do ICBAS descreveram os
biomarcadores que permitem identificar uma "memória metabólica" presente
nos testículos.As alterações são
"consequência da ingestão de uma dieta rica em gordura" e podem ser
herdadas por duas gerações, isto é, pai-filho-neto, tendo "implicações
na fertilidade masculina". A equipa,
liderada pelo investigador Marco Alves, já tinha determinado, em
trabalhos anteriores, que a ingestão excessiva de gordura durante as
primeiras fases da vida altera o conteúdo lípido e o metabolismo dos
testículos, "afetando negativamente a capacidade reprodutiva durante o
resto da vida" e "resultando em alterações que não são reversíveis com a
mudança para uma dieta equilibrada".Neste
estudo, realizado também em modelos animais (ratinhos), os
investigadores "foram mais além" e descreveram os efeitos
transgeracionais que são transmitidos pelos pais que ingerem uma dieta
rica em gorduras a filhos e netos que seguiram uma dieta equilibrada. "A
descendência mostrou, nos testículos, uma alteração no metabolismo da
colina", isto é, um nutriente essencial para a regulação de várias
funções, como a função cerebral, e o desenvolvimento de espermatozoides.A
investigação mostrou ainda alterações na atividade das mitocôndrias,
nas defesas antioxidantes e na presença de vários lípidos. "Estas
alterações promovem um ambiente pró inflamatório no testículo,
alterando a contagem e a qualidade espermática", salienta o ICBAS,
notando que os efeitos transgeracionais também se observam quando a
ingestão de gorduras pelo pai é apenas até à puberdade. Citado no comunicado, o investigador Marco Alves salienta que a reprodução "também é reflexo da dieta". "As
nossas escolhas alimentares vão ter consequências nos nossos filhos e,
muito possivelmente, também nos nossos netos", afirma, acrescentando que
estes efeitos podem ter ainda mais impacto nos processos de reprodução
assistida, uma vez que o espermatozoide é escolhido de forma aleatória e
sem ter em conta biomarcadores como os identificados no estudo."O
aumento da infertilidade está claramente associado ao aumento das
doenças metabólicas (sobrepeso, obesidade e diabetes, entre outras),
tendo sido esta associação já reconhecida pela Organização Mundial da
Saúde", destaca Marco Alves. A memória
metabólica no testículo é transmitida pelas células de Sertoli, que
respondem asseguram todas as necessidades estruturais e metabólicas
durante o processo de formação dos espermatozoides. Os estímulos captados por estas células além de alterarem a sua própria expressão genética, alteram também a epigenética. "Conhecer
estas alterações e os mecanismos de transmissão, permitirá selecionar
os melhores espermatozoides e a melhor janela de tempo para realizar
fertilizações in vitro, melhorando a eficiência das técnicas de
reprodução assistida e abrindo novas oportunidades terapêuticas na
infertilidade masculina", acrescenta o investigador.Além
da equipa do ICBAS, o estudo contou também com investigadores
da Faculdade de Farmácia da Universidade do Porto, da Universidade de
Aveiro, do Instituto Politécnico da Guarda e da Associação Protetora dos
Diabéticos de Portugal (APDP).O trabalho
resultou ainda de várias parcerias internacionais, incluindo a
Universidade de Zagreb e a University College of London.