Alemanha desliga 3 centrais nucleares sexta-feira e últimas 3 no final de 2022
30 de dez. de 2021, 17:36
— Lusa/AO online
As
centrais de Brockdorf, Emsland e Gröhnde, todas no Norte do país,
cessarão as suas operações no último dia de 2021, e as centrais
Neckarshaim 2, Isar 2 e Gundremingen C, no Sul, seguirão o exemplo no
final de 2022, tornando a Alemanha um país sem energia nuclear, segundo a
agência de notícias espanhola EFE.O
plano está a ser aplicado com um consenso generalizado, dado que apenas
tem sido contestado pelo partido da extrema-direita AfD, mas gerou
controvérsia quando se iniciou o debate, em 1998.Até
2011, havia uma linha divisória clara: o Partido Social Democrata (SPD)
e os Verdes rejeitavam a energia nuclear, enquanto a União Cristã
Democrática (CDU) e o Partido da Liberdade (FDP) a consideravam como uma
parte indispensável da matriz energética.O
SPD também foi defensor da energia nuclear, mas mudou de posição com o
aumento dos protestos antinucleares após o desastre de 1986 na central
de Chernobyl, na Ucrânia, então parte da União Soviética.Quando
o social-democrata Gerhard Schröder foi eleito chanceler, em 1998, à
frente de uma coligação com os Verdes, um dos pontos do programa
governamental foi a criação de um plano para o abandono da energia
nuclear.A
eliminação progressiva não poderia ser imediata, como queriam os Verdes
mais radicais, devido à necessidade de assegurar o fornecimento de
energia.Schröder
exigiu também que não fosse uma decisão unilateral do governo, mas que
resultasse de um plano consensual com as empresas de energia, o que foi
conseguido em 2000.Este
consenso foi a base da lei aprovada em 2001, que estipulava que todas
as centrais elétricas tinham de ser desativadas após 32 anos de
funcionamento.Em
2002, um ano após a lei ter sido aprovada, a energia nuclear
representava 30% das fontes energéticas da Alemanha, com o carvão a ter a
maior fatia, 52%, e as energias renováveis a significaram apenas 8%.Atualmente,
as energias renováveis representam quase 50% do cabaz energético,
enquanto a energia nuclear representa apenas 12,5%.A
elevada percentagem de carvão na matriz energética, 31,9% no terceiro
trimestre, continua a ser uma mancha no plano devido às consequências
negativas para a luta contra as alterações climáticas.A
CDU/CSU e o FDP continuaram a defender a energia nuclear e em 2010,
durante o segundo governo de Angela Merkel em coligação com os liberais,
foi aprovada uma lei que prolongou a vida útil das centrais por oito a
14 anos.Esta
lei não durou muito, pois em 2011, sob o impacto da catástrofe na
central japonesa de Fukushima, Merkel mudou a sua posição sobre a
energia nuclear e optou por um regresso, com algumas nuances, ao plano
de encerramento da coligação SPD/Verdes.A
decisão levou a que sete reatores fossem desligados de imediato e um
oitavo, que estava fora da rede por razões técnicas, não voltou a ser
reativado.A partir desse momento, o apagão nuclear começou a parecer irreversível.Um
relatório da Agência Internacional de Energia Atómica (AIEA),
consultado pela Lusa, assinalava que a 30 de abril deste ano, 30
centrais nucleares, incluindo protótipos e reatores experimentais,
tinham sido encerradas permanentemente na Alemanha.O
desafio agora é acelerar o crescimento das energias renováveis, uma vez
que o abandono do carvão também está na agenda das autoridades da
Alemanha.