Alemanha apoia proposta de Bruxelas para cortar em 15% o consumo de gás
21 de jul. de 2022, 18:12
— Lusa/AO online
"É uma
proposta acertada", considerou o ministro da Economia e Clima, Robert
Habeck, afirmando, contudo, que é algo que ainda não está "acordado" e
aludindo à recusa expressa por parte de outros países do bloco
comunitário.Até ao momento, Portugal,
Espanha e a Grécia manifestaram o seu desacordo com a medida proposta na
quarta-feira pela presidente da Comissão Europeia (CE), Ursula von der
Leyen, e que será debatida durante o conselho extraordinário de energia
da União Europeia da próxima terça-feira.O
objetivo é que, entre 01 de agosto deste ano e 31 de março de 2023, os
Estados-membros reduzam em 15% os seus consumos de gás natural (face à
média histórica nesse período, considerando os anos de 2017 a 2021), de
forma a aumentar o nível de armazenamento europeu e criar uma almofada
de segurança para situações de emergência.O
novo regulamento proposto daria igualmente à Comissão “a possibilidade
de declarar, após consulta dos Estados-membros, um ‘alerta da União’
sobre a segurança do aprovisionamento, impondo uma redução obrigatória
da procura de gás a todos os países”.“Estamos
completamente contra”, afirmou o secretário de Estado do Ambiente e da
Energia português, em declarações ao jornal Expresso. “Isto não se pode
aplicar a Portugal. Portugal é contra esta proposta da Comissão, porque
ela não tem em atenção as diferenças entre países”, sustentou João
Galamba. Ao jornal Público, o governante
explicou que o Governo português “não aceita” a proposta de Bruxelas
porque esta ignora que Portugal não tem interligações com o resto da
Europa e que o consumo de gás no país se dirige essencialmente à
indústria e à produção de eletricidade.A
agência Lusa questionou o Ministério do Ambiente e Ação Climática e o
Ministério dos Negócios Estrangeiros sobre se o Governo português já
manifestou formalmente a Bruxelas a sua oposição à proposta da Comissão
Europeia (CE), mas não obteve resposta até ao momento.Embora
afirmando compreender que "há países que não se protegeram e agora
pedem ajuda”, o secretário de Estado do Ambiente e da Energia critica a
CE por desenhar uma proposta "insustentável", que obriga o país a ficar
sem eletricidade.“Estamos a usar o gás por
absoluta necessidade”, sublinhou o governante nas declarações ao
Público, dizendo que “Portugal irá opor-se” à aprovação de uma medida
“insustentável” e “desproporcional”, que precisa do voto favorável de
uma maioria qualificada no Conselho Europeu.Segundo
o secretário de Estado, “toda a lógica do racionamento solidário
pressupõe sistemas interligados e parece que a Comissão Europeia se
esqueceu dessa realidade”, pelo que é caricato que “um país que foi
prejudicado anos e anos por não ter interligações” e que “teve de
comprar sempre o gás mais caro” seja agora “chamado a um mecanismo de
solidariedade que pressupõe interligações”.Na
mesma linha, a ministra da Transição Energética de Espanha, Teresa
Ribera, citada na quarta-feira pelo El País, afirma que o país não pode
“assumir um sacrifício desproporcionado” sobre o qual nem lhe foi pedido
“opinião prévia”. "Ao contrário de outros
países, nós, espanhóis, não vivemos acima das nossas possibilidades do
ponto de vista energético", atirou, sustentando que a solidariedade não
passa pelo corte e afirmando-se, antes, disposta a disponibilizar
infraestruturas para fornecer gás ao resto da Europa.Num
pacote sobre “poupar gás para um inverno seguro”, o executivo
comunitário aponta que “a UE enfrenta o risco de novos cortes no
fornecimento de gás da Rússia, […] com quase metade dos Estados-membros
já afetados por entregas reduzidas”.“Tomar
medidas agora pode reduzir tanto o risco como os custos para a Europa
em caso de maior ou total perturbação, reforçando a resiliência
energética europeia e, por conseguinte, a Comissão propõe hoje
[quarta-feira] um novo instrumento legislativo e um Plano Europeu de
Redução da Procura de Gás, para reduzir a utilização de gás na Europa em
15% até à próxima primavera”, anunciou a instituição.Apontando
que “todos os consumidores, administrações públicas, famílias,
proprietários de edifícios públicos, fornecedores de energia e indústria
podem e devem tomar medidas para poupar gás”, a CE vinca que irá,
também, “acelerar o trabalho de diversificação da oferta, incluindo a
compra conjunta de gás para reforçar a possibilidade da UE de obter
fornecimentos alternativos de gás”.As
tensões geopolíticas devido à guerra na Ucrânia têm afetado o mercado
energético europeu, já que a UE importa 90% do gás que consome, sendo a
Rússia responsável por cerca de 45% dessas importações, em níveis
variáveis entre os Estados-membros.Em Portugal, o gás russo representou, em 2021, menos de 10% do total importado.