AIMA, o teste ao “novo paradigma” para receber imigrantes
2024
18 de dez. de 2023, 09:29
— Lusa/AO Online
Resultando da fusão de parte das
funções do extinto Serviço de Estrangeiros e Fronteiras (SEF) e do Alto
Comissariado para as Migrações, a nova agência entrou em funcionamento
no final de outubro com grandes promessas do governo que, até ao
momento, ainda não se cumpriram.O fim do
governo e a marcação de eleições em março colocam em risco os
compromissos do executivo socialista, num momento em que, todos os dias,
entram centenas de pedidos de regularização num sistema que não dá
resposta suficiente.Até final do ano, o
executivo tinha prometido resolver as dezenas de milhar de casos de
pedidos de reagrupamento familiar em atraso e que motiva várias queixas
de ativistas e juristas, porque se trata de algo imposto pela lei.Portugal
é um dos poucos países europeus que permite a um trabalhador imigrante
em situação irregular fazer o pedido de visto nas autoridades nacionais e
são estes os casos que estão a entupir o sistema. Basta
ter morada, número fiscal e um contrato de trabalho para fazer o
pedido, independentemente de ter entrado como turista, uma situação que
fez aumentar exponencialmente os requerimentos em situação irregular.A nova agência herdou 350 mil processos pendentes em outubro, a última vez em que foram divulgados os números.Para
tentar resolver a situação, o governo agora cessante, prometeu investir
na modernização do sistema informático, com um portal já aberto a
pedidos de concessão e de renovação das autorizações de residência, um
dos problemas do SEF, que não conseguia dar resposta aos pedidos feitos e
apresentava vários problemas estruturais. Em
paralelo, no primeiro trimestre de 2024, o executivo disse que iria
lançar uma operação em conjunto com os municípios e os gabinetes de
apoio aos imigrantes, com recursos da AIMA nas lojas do cidadão, para
atender os pedidos pendentes. Na lista de
promessas contam-se novos programas de ensino de português a imigrantes,
um novo centro de atendimento telefónico de qualidade e um novo centro
multidisciplinar para gerir os processos de proteção internacional,
acompanhar os refugiados e os requerentes de asilo desde a sua entrada
até à sua integração.A criação da AIMA
cumpriu este ano uma promessa antiga do PS, que defendeu o fim do SEF,
uma extinção que foi aprovada pelo parlamento há dois anos.As
competências do SEF foram transferidas para seis organismos, passando
as funções policiais para a PSP, GNR e Polícia Judiciária.As
funções em matéria administrativa relacionadas com os cidadãos
estrangeiros foram para a nova agência e para o Instituto de Registos e
Notariado (IRN), tendo sido ainda criada a Unidade de Coordenação de
Fronteiras e Estrangeiros, que funciona sob a alçada do secretário-geral
do Sistema de Segurança Interna.Os
inspetores foram transferidos para a PJ e os funcionários não policiais
para a AIMA e IRN, existindo “um regime de afetação funcional
transitório", que permite aos inspetores do SEF exercerem funções, até
dois anos, na GNR e na PSP nos postos de fronteira aérea e marítima.Na
GNR, que ficou responsável pelas fronteiras marítimas e terrestres,
ficaram afetos 80 inspetores, enquanto 324 ficaram na PSP, que assume o
controlo das fronteiras aéreas.A PJ, que
nesta fase inicial ficou com 390 inspetores, passou a ter a competência
reservada na investigação da imigração ilegal e tráfico de pessoas.As
bases de dados policiais e sistemas de informação em matéria de
fronteiras e estrangeiros e de cooperação policial internacional são
geridas pela Unidade de Coordenação de Fronteiras e Estrangeiros.A
AIMA, que sucedeu também ao Alto Comissariado para as Migrações, ficou
com 590 trabalhadores das carreiras geral e de informática do SEF.Com
um orçamento de 81 milhões de euros, a nova agência conta com 740
funcionários e prevê 190 novas contratações e nos estatutos, o governo
refere que "o modelo de governação ora determinado concretiza uma
mudança de paradigma na forma como a Administração Pública se relaciona
com os cidadãos estrangeiros, seja na sua entrada e permanência em
território nacional, seja no seu acolhimento e na sua integração”.Este
novo modelo também quer atuar ao nível do combate ao racismo e da
integração de grupos étnicos, “melhorando a qualidade dos serviços
públicos, com ganhos de eficiência, e dos recursos a eles afetos,
maximizando sinergias e potenciando os seus resultados".