Agricultores da Terceira estimam quebra de produção até 40% devido à seca
25 de jun. de 2018, 15:33
— Lusa/AO Online
“Nos
primeiros cinco meses [de 2018], até tivemos uma produção superior ao
ano passado. No mês de junho tem caído abruptamente e vamos notar ainda
mais nos próximos meses. E vai haver rutura de stocks, porque se calhar
30% a 40% da produção do leite é capaz de cair”, adiantou hoje o
presidente da Associação de Jovens Agricultores Terceirenses (AJAT),
Anselmo Pires.O
produtor agrícola falava, em declarações aos jornalistas, à margem de
uma visita a alguns campos de milho na Praia da Vitória, acompanhado
pelo secretário regional da Agricultura e Florestas dos Açores, João
Ponte.Segundo o
agricultor, embora seja comum a outras ilhas nos Açores, a seca
“acentuou-se mais cedo” nas ilhas Terceira e Graciosa e num nível
superior ao registado nos últimos 50 anos.“No
meu tempo, nunca houve nada disto. Os mais antigos referem que há mais
de 50 anos houve um caso parecido, mas não tanto gravoso como este ano”,
sublinhou.Segundo
Anselmo Pires, a falta de chuva nos meses de abril, maio e junho
provocou atrasos na produção de erva e milho, o que fará com que alguns
agricultores tenham de importar produtos para alimentar os animais, já a
partir de julho.“Foi
semeado menos 60% do milho este ano na ilha Terceira. Destes 40% que
foram semeados, se calhar 10% vão ser colhidos, vão vingar”, salientou,
acrescentando que a produção de rolos de erva registou “uma quebra de
50%”. Os
agricultores fazem habitualmente silos de milho em setembro para
utilizarem durante o inverno e a primavera, mas este ano, mesmo que
chova no verão, não haverá produção suficiente para assegurar a
alimentação do gado bovino.Por
outro lado, o presidente da Associação de Jovens Agricultores
Terceirenses alertou para a possibilidade de se registarem
constrangimentos no abastecimento de água para os animais.“Era
preciso que os furos que estão instalados começassem a ser equipados
para retirar água, porque os reservatórios não vão aguentar este verão.
Temos animais nesta altura do ano a beber mais de 120 litros de água por
dia”, frisou.Anselmo
Pires reivindicou a atribuição de apoios do Governo Regional, alegando
que esta quebra de alimentos “vai afetar bastante a produção de leite e
mesmo de carne”.O
secretário regional da Agricultura e Florestas disse que iria definir
medidas a tomar nos próximos dias, realçando que “a situação é muito
complexa” e diferente de ilha para ilha.“Esta
semana vamos reunir-nos com a Federação Agrícola dos Açores para, no
fundo, se possível, tomar algumas decisões e avançar com soluções
concretas para minimizar os prejuízos, que não há dúvidas que vão
existir”, apontou.Questionado
sobre a possibilidade de atribuição de apoios aos agricultores, João
Ponte disse que o executivo açoriano não quer “avançar com decisões
avulsas”, por isso vai fazer “uma avaliação concreta em todas as ilhas”,
para poder criar um “plano de ação específico”, em articulação com as
associações representativas dos agricultores.Segundo
o governante, as ilhas Terceira, Santa Maria e Graciosa apresentam
“situações mais complexas”, mas todas as ilhas requerem atenção.“Não
há dúvidas de que vão existir carências de alimentação, não há dúvidas
de que as produções de leite vão baixar. Isso parece-me que é
inequívoco, mesmo que possa chover durante os meses de julho e de
agosto”, salientou.João
Ponte realçou ainda a necessidade de canalizar os fundos do próximo
quadro comunitário de apoio para o reforço da capacidade de reserva de
água, que apresenta carências sobretudo nas ilhas do Pico, de Santa
Maria e de São Miguel.