“Agora faço o meu próprio presépio com os meus bonecos”
26 de dez. de 2023, 08:45
— Rafael Dutra
Para muitos açorianos a presença de um presépio
tradicional é necessária no dia de Natal. Há quem anseie prepará-lo e
criá-lo em família.Foi esta tradição e este sentimento natalício e
em família, que fez com que Rafaela Cabral quisesse, pelas suas próprias
mãos, fazer os seus presépios de Natal e formar-se em arte bonecreira.Conforme
declara Rafaela Cabral em entrevista ao Açoriano Oriental, “[a minha
família] sempre teve presépio no Natal. Vários elementos da minha
família criavam presépios enormes nas suas casas, até móveis tinham de
tirar das salas para poderem criar presépios muito grandes”.Rafaela
Cabral tem 28 anos e é natural de Água de Pau, no concelho da Lagoa. É
neste concelho que tem apostado muito na formação na arte bonecreira,
tendo desenvolvido as competências artesanais na criação de bonecos em
barro para presépios.Em 2022, após a lagoense ter conhecimento de
uma formação promovida pela Câmara Municipal da Lagoa, no âmbito do
projeto Novos Bonecreiros, e porque “sempre tive gosto em criar um
presépio na minha casa e, uma vez, que os bonecos são caros de
adquirir”, decidiu participar na formação e aprender com o bonecreiro
João Arruda.“Tive essa oportunidade e agora faço o meu próprio
presépio com os meus bonecos. Nunca pensei que um dia isso pudesse
acontecer”, destaca a bonecreira lagoense, admitindo ainda que, após a
conclusão da formação, começou a “criar algumas peças e, desde então,
fui sempre criando”.Apesar de não ser a sua profissão, e de ainda
muitas pessoas não saberem que é artesã, Rafaela Cabral passa grande
parte do seu tempo livre a trabalhar em encomendas, principalmente para
presépios de lapinha, que “têm tido muita saída”.A bonecreira
destaca o seu trabalho de pintura como a sua principal característica de
diferenciação. Neste sentido, diz que os seus “clientes, colegas e
amigos” acabam por elogiar a utilização de “cores vivas”, o seu
perfeccionismo e a minuciosidade que dedica aos detalhes faciais e às
roupas dos bonecos, que diz serem “muito chamativos”.Além destes
comentários positivos teve também um voto positivo de júris nesta área.
Em 2022 candidatou-se ao concurso de presépios em duas categorias:
presépio tradicional e figurado contemporâneo.Para o primeiro
concurso elaborou um presépio de 150 figuras todas criadas por si, tendo
ficado em 2.º lugar. Já para o concurso de figurado contemporâneo criou
um boneco de barro que não existia, a peixeira, o que lhe levou a ser
distinguida com o prémio de 1.º lugar nessa categoria.Ser agraciada
em ambas as categorias foi “muito gratificante” para a artesã,
especialmente porque a criação do boneco da peixeira está associada a um
sentimento pessoal. “Venho de uma família piscatória: o meu pai, tios,
primos, grande parte da minha família pertence ao setor da pesca.
Pensei... porque não fazer uma pescadora? Sou filha de um pescador, vou
criar uma peixeira”, explica.No futuro pretende continuar a aprender
e a melhorar nesta área, e tenciona realizar mais formações de
artesanato. “Ouvi uns rumores que vai haver uma formação de vimes e
tenho também gosto em participar. Tudo o que é com as mãos eu dou muito
valor e gosto muito de aprender”, conclui.