Agência Europeia denuncia vários casos de exploração laboral em Portugal
5 de set. de 2018, 11:38
— Lusa/AO Online
O
relatório, da autoria da Agência Europeia para os Direitos Fundamentais
(FRA), resulta de entrevistas feitas a 237 trabalhadores migrantes
adultos, entre 133 homens e 104 mulheres, que afirmaram terem sido
vítimas de exploração laboral entre 2013 e 2017, sendo que 175 eram
oriundos de 40 países terceiros, enquanto os restantes 62 vinham de
países membros da União Europeia.A investigação foi feita em oito Estados-membros: Bélgica, França, Alemanha, Itália, Holanda, Polónia, Portugal e o Reino Unido.Em
Portugal, a FRA encontrou casos diversos, tanto em lojas, como em
fábricas, na construção civil ou na agricultura, tendo entrevistado 26
pessoas.Encontrar
formas de escapar ou, pelo menos, ser bem-sucedido nas inspeções, é
algo a que muitos empregadores portugueses se dedicam, sendo comum a
estratégia de esconder funcionários quando os inspetores do Serviço de
Estrangeiros e Fronteiras (SEF) ou da Autoridade para as Condições no
Trabalho (ACT) estão nas instalações.Um
dos casos relatados diz respeito a um trabalhador, em situação
irregular, que foi obrigado a esconder-se numa sala frigorífica durante
três horas e que depois precisou de receber assistência médica.Um
exemplo extremo entre os treze casos detetados de trabalhadores, na
Bélgica, França, Itália, Polónia e Portugal, que afirmaram que, enquanto
decorriam as inspeções, eram obrigados a esconder-se na rua, nas casas
de banho, arrecadações, jardins ou caves.Por
outro lado, uma agência de recrutamento em Portugal avisava os
trabalhadores para dizerem, quando questionados pelos inspetores, que
estavam contentes com o salário, o trabalho e as condições em que
viviam.Um
empregador português do setor da construção civil só providenciava papel
higiénico aos trabalhadores durante as inspeções, enquanto outros (em
Itália, Portugal, Holanda e Reino Unido) ameaçavam os trabalhadores caso
eles não acatassem as suas exigências, desde intimidarem-nos com
despedimento, assustarem-nos com uma possível deportação ou mesmo
ameaçarem retirar-lhes os filhos.No
que diz respeito às possíveis consequências das inspeções, os
participantes num dos grupos de entrevistas em Portugal concordaram que,
apesar de os empregadores poderem ser multados quando uma situação de
exploração laboral é detetada, a maior parte das vezes não há medidas
consequentes contra os patrões, enquanto os empregados podem ser
prejudicados.Um
trabalhador em situação irregular em Portugal contou que os inspetores
da ACT ordenaram ao patrão para regularizar a situação dos
trabalhadores. O patrão não só não acatou a ordem, como exigiu a cada
trabalhador o pagamento de 300 euros para alegadamente contratar um
advogado que tratasse dos processos de regularização. De acordo com o trabalhador, o patrão não contratou nenhum advogado e guardou o dinheiro para pagar possíveis multas.Noutro
caso, os inspetores da ACT detetaram dois trabalhadores em situação
irregular e ordenaram ao empregador que lhes fizesse um contrato para
eles poderem pedir uma autorização de residência, ao que ele acedeu.“Uma
semana depois, ele obrigou-os a assinar o fim do contrato, como se eles
se tivessem despedido, mas eles continuaram lá a trabalhar só que sem
qualquer contrato”, contou uma trabalhadora de nacionalidade ucraniana
de uma empresa de limpezas.Apesar
dos maus exemplos, a FRA também encontrou testemunhos de satisfação em
relação à forma de atuação dos inspetores ou das forças policiais
portugueses, apontando que se preocuparam em ouvir os trabalhadores
pessoalmente – longe dos empregadores - explicaram-lhes os seus direitos
e encaminharam-nos para outros serviços, consoante as necessidades.Dezasseis
trabalhadores, entre 63 pessoas que testemunharam ou experienciaram uma
inspeção, apontaram que houve consequências positivas das inspeções.
Dez entrevistados (oito na Holanda e dois em Portugal) foram retirados
da situação de exploração e seis foram identificados como vítimas de
tráfico de serem humanos (um na Bélgica, três na Holanda e dois na
Polónia.No
caso de Portugal, os entrevistados sugeriram mais medidas sancionatórias
e punitivas para os empregadores quando são identificadas relevantes
violações de leis.