Aeroporto deserto em dia de retoma das ligações interilhas nos Açores
Covid-19
29 de mai. de 2020, 12:06
— Lusa/AO Online
A
SATA Air Açores, que opera entre as ilhas da região, retomou hoje a sua
operação, depois de dois meses e uma semana de interrupção. Durante
este período, os aviões da companhia apenas levantaram voo para o
transporte de cargas ou em casos de força maior.Quem
não soubesse do regresso da operação da SATA, provavelmente não notaria
diferença no Aeroporto João Paulo II, em São Miguel, porque foram
poucos os passageiros que decidiram aproveitar o primeiro dia da retoma
das viagens. Eram 07h30 quando saiu o
primeiro voo com destino a Santa Maria, a ilha vizinha do grupo
oriental. Apesar de o avião ter capacidade para 53 pessoas, foram apenas
12 os passageiros que viajaram. Um dos
passageiros foi Dinis, natural de Santa Maria, que foi autorizado pela
Autoridade de Saúde a deslocar-se a São Miguel por motivos de saúde. Uma
viagem que habitualmente dura 20 minutos, demorou cinco horas naquela
vez, porque foi necessário ir buscar passageiros a outras ilhas. "Tivemos
de ficar no Faial [vindos de Santa Maria] porque eles [SATA] iam às
Flores. É muito triste ver o aeroporto deserto. Só se via eu e a minha
esposa lá dentro e um ou dois funcionários da SATA. É muito triste ver
os nossos Açores assim", recorda. Na manhã de hoje, o cenário não era "muito diferente", assume Dinis, referindo que as "pessoas estão com medo de viajar". "Aos
poucos tenho fé que isso vai acabar. Mas isso depende de nós. Depende
de cada um. Não depende dos médicos, depende de nós próprios", diz.Além
dos poucos passageiros, o próprio aeroporto encontrava-se a funcionar a
'meio-gás'. Com as lojas todas encerradas, apenas estavam abertos dois
postos para o aluguer de viaturas, um centro de informações e uma
tabacaria.O segundo voo da manhã saiu às 9h25 e tinha como destino final o Corvo, fazendo escala no Faial e nas Flores. Elisabete
Soares foi uma das 13 pessoas que seguiu no voo com capacidade para 20
passageiros. Vive em São Miguel, mas costuma trabalhar durante cerca de
"quatro, cinco meses" num restaurante no Faial por altura do verão."Fiquei
um mês à espera dos voos. Foi o que para mim causou mais transtorno,
porque para retomar essa atividade profissional tive de ficar à espera
que abrissem os voos", diz à agência Lusa.
Elisabete diz que o Governo dos Açores "agiu bem" ao fechar o espaço
aéreo, reconhecendo que o seu caso não foi dos "piores", porque conhece
pessoas que ficaram sem emprego ou que não conseguem regressar a casa. "Tenho
pessoas amigas que ficaram sem trabalho. Pessoas que foram mesmo
despedidas ou que os contratos não foram renovados por causa da situação
[da pandemia]. Inclusive tenho os meus sogros nos Estados Unidos que
estão à espera de voo para virem para casa", assinala. Quem
também segue nesse voo é Barbara Proença, que ao falar com a Lusa
mantém a distância de segurança, devidamente identificada pelas marcas
no chão do aeroporto. É natural do Corvo,
estuda Belas Artes no Porto, mas para chegar à região teve de vir por
Lisboa. Está ansiosa por regressar a casa depois de ter estado em
quarentena num hotel em São Miguel desde 18 de maio. "Temos
de fazer o nosso esforço. Não são 14 dias que nos vão prejudicar assim
tanto e temos as condições todas para conseguir sobreviver sem nenhum
dano psicológico", refere. Apesar de
compreender a suspensão dos voos interilhas, defende que deveria ser
encontrada uma solução para os estudantes açorianos retidos no
continente, porque os apoios pecuniários do Governo Regional destinados
aos alunos, mesmo sendo "rápidos e positivos", são insuficientes. "Ao
nível do transporte, acho que podia ter sido feito de outra forma.
Podiam ter arranjado outras maneiras. Ainda vão a tempo de arranjar uma
maneira de trazer os estudantes de volta. Há gente a pagar balúrdios por
bilhetes, o que não faz sentido", aponta. Ao
contrário de muitos estudantes que já estão nos Açores, Barbara Proença
diz que não irá ter dificuldades em realizar as avaliações porque a sua
faculdade é "super compreensiva" e permitiu "exames virtuais" ou a
realização dos exames presenciais em setembro durante a época especial.Pela
falta de movimento no Aeroporto de Ponta Delgada, ninguém diria que o
dia assinalava o regresso da operação do grupo SATA, mesmo que, para já,
apenas entre as ilhas. A pouca
movimentação levou uma funcionária do aeroporto a reconhecer à Lusa que
não sentiu "grande diferença" entre a manhã de hoje e os dias
anteriores, porque, mesmo com os voos suspensos, "alguns passageiros"
tinham autorização para viajar por motivos de saúde. Talvez
a circulação de passageiros aumente a 15 de junho, altura em que a
Azores Airlines, que opera de e para fora do arquipélago, vai retomar as
ligações aéreas entre Lisboa e Ponta Delgada e Lisboa e a Terceira, bem
como entre o Funchal e Ponta Delgada.Posteriormente,
a 22 de junho, recomeçam os voos entre Lisboa e os aeroportos da Horta
e do Pico, e, por fim, a 1 de julho, serão retomadas as operações
entre o Porto e Ponta Delgada, bem como as ligações internacionais a
Boston (EUA), Toronto (Canadá), Praia (Cabo Verde) e Frankfurt
(Alemanha).Além das marcas no chão para
alertar para a distância de segurança, a ANA Aeroportos avançou à Lusa
ter implementado várias medidas de proteção nos aeroportos, como a
utilização de máscaras, o "reforço de limpeza e desinfeção", a "melhoria
dos sistemas da renovação do ar" e a instalação de um "sistema de
câmaras de medição de temperatura na área das chegadas" nos Aeroportos
de Lisboa, Porto, Faro, Madeira e Ponta Delgada.