Advogado de Ricardo Salgado diz que tribunal deve apreciar contestação antes do julgamento
7 de jun. de 2021, 12:21
— Lusa/AO Online
Francisco
Proença de Carvalho falava aos jornalistas à saída do Tribunal Criminal
de Lisboa, onde estava previsto para hoje o início do julgamento de
Ricardo Salgado por três crimes de abuso de confiança, em processo
conexo mas separado da Operação Marquês, mas que acabou por ser adiado
pelo juiz Francisco Henriques mediante a insistência da defesa em que o
julgamento não principiasse sem que antes o tribunal analisasse a
contestação que a defesa vai apresentar até quarta-feira, data-limite do
prazo.Perante
o facto de o juiz manter as datas de 14 e 15 de junho para a realização
das primeiras audiências de julgamento, dando sinal que pretende
analisar a contestação a tempo de começar as sessões na próxima
segunda-feira, o advogado de Ricardo Salgado admitiu que "o tribunal
decidirá" sobre isso, observando, porém, que o juiz "abriu a porta" a
outras opções.Francisco
Proença de Carvalho, que em audiência defendeu ser mais plausível
iniciar o julgamento em julho, tanto mais que a contestação tem cerca de
150 páginas, com argumentos que exigem análise e decisão, insistiu que o
único objetivo da defesa é o de que o coletivo de juízes "leia, estude e
analise" os argumentos da defesa, nos quais realçou "ter muita
confiança"."É
só isso que desejamos", declarou aos jornalistas, depois de, na sala de
audiência, ter negado qualquer intenção da defesa em atrasar o
julgamento.O
advogado afirmou também aos jornalistas "ser preciso que a justiça não
ceda a pressões e que analise os argumentos de todas as partes",
acrescentando que a defesa só quer que "o processo decorra com toda a
normalidade".Disse ainda que a defesa "sempre que achar que está a ser cometido um ato ilegal, agirá".Apesar
de ter decidido adiar o julgamento, o juiz considerou que o mesmo
deveria ter começado hoje, justificando que a resposta à contestação da
defesa de Salgado poderia ser analisada no decurso das sessões e
entendendo que não há motivo para que o julgamento não se realize o mais
rapidamente possível, porque o processo não é de grande complexidade e o
arguido só terá de estar presente se quiser prestar declarações.Face
à decisão de adiamento, o presidente do coletivo de juízes manteve as
datas previamente agendadas de 14 e 15 de junho para ouvir as
testemunhas de acusação já indicadas, acrescentando que oportunamente
será marcada "nova ordem de trabalhos relativamente aos meios de prova
que não puderam ser produzidos nas sessões de hoje e terça-feira que
ficaram sem efeito".Francisco
Henriques reconheceu que tinha urgência em realizar este julgamento
devido à agenda sobrecarregada que tem a partir de setembro e outubro.Face
ao adiamento decidido, o juiz anunciou que vai esperar pela contestação
da defesa de Salgado e analisará depois, no início da próxima semana,
se podem ser agendadas mais sessões de julgamento e quais as datas
possíveis.O
coletivo de juízes tinha validado a sua competência territorial para
julgar o caso e tinha agendado audiências para hoje, terça-feira e para
14 e 15 de junho (já com alegações finais), naquilo que seria um
julgamento célere, mas o facto de ainda não ter terminado o prazo para a
defesa contestar a acusação acabou por levar ao adiamento do início da
produção de prova.O
antigo presidente do BES foi pronunciado pelo juiz de instrução da
Operação Marquês, Ivo Rosa, por três crimes de abuso de confiança, em
processo conexo e separado da Operação Marquês. Ricardo
Salgado não compareceu hoje no tribunal, tendo Francisco Proença de
Carvalho justificado tal ausência com o facto de o ex-banqueiro ter uma
idade avançada (76 anos) e devido aos riscos inerentes à pandemia por
covid-19 estar legalmente dispensado de comparecer fisicamente.No
âmbito da Operação Marquês, que tem como principal arguido o antigo
primeiro-ministro José Sócrates, Ricardo Salgado foi acusado de 21
crimes, entre corrupção ativa (num dos casos por alegadamente ter
corrompido Sócrates), branqueamento de capitais, falsificação de
documentos e fraude fiscal qualificada. Contudo, o juiz de instrução Ivo
Rosa decidiu, em 09 de abril, pronunciar Ricardo Salgado unicamente por
três crimes de abuso de confiança, que serão julgados em processo
autónomo.O
Ministério Público anunciou já que vai apresentar recurso da decisão
instrutória do juiz Ivo Rosa, que esvaziou grande parte dos factos
acusatórios e ilibou vários dos arguidos alegadamente envolvidos em
diversos crimes de natureza económico-financeira.