Adolescente Greta Thunberg pôs o mundo a discutir o clima
25 de dez. de 2019, 10:00
— Lusa/AO Online
Tal como a causa que defende, a ativista
climática, escolhida pela redação da Lusa como personalidade do ano em
2019, acabou por se tornar ela própria num tema fraturante. Dos
elogios do Papa à manifesta irritação de Presidente brasileiro, Jair
Bolsonaro, passando pelo desdém com que o chefe de Estado
norte-americano, Donald Trump, trata as questões que lhe são
desconfortáveis, o mundo parece não ficar indiferente à jovem sueca, que
começou um movimento internacional pelo clima sozinha, com um cartaz de
papelão, em frente ao parlamento do seu país, uma cruzada que a leva
hoje às mais altas instâncias. Uma
“pirralha”, nas palavras de Bolsonaro, que não perdoou a Greta Thunberg a
defesa dos índios da Amazónia, uma “criança muito feliz”, na ironia de
Donald Trump, quando confrontado com a revolta da adolescente no palco
das Nações Unidas, onde se dirigiu diretamente aos líderes mundiais para
lhes perguntar “como se atrevem” a roubar-lhe os sonhos, a pôr em causa
o futuro nas novas gerações, num planeta que a cada dia dá sinais de
profundas mudanças no clima que suporta a humanidade.Às
críticas, pelo ativismo, pelo aspeto físico, pelas roupas que veste,
pela própria doença de Asperger - que assumiu como uma diferença que usa
a seu favor -, Greta Thunberg responde com a maturidade de quem sabe
que está a criar incómodo: “Ouçam apenas e ajam de acordo com a
ciência”.Do Papa Francisco recebeu
palavras de estímulo. “Vai em frente e que Deus te abençoe”, disse o
líder da Igreja Católica à jovem ativista, no Vaticano, depois de esta
lhe agradecer as posições que tem assumido em defesa do ambiente.Face
aos inúmeros convites que recebe para estar presente em manifestações,
conferências e entregas de prémios, Greta Thunberg tem gerido a agenda,
com algumas restrições, nomeadamente no que toca aos meios de
deslocação, privilegiando as travessias do Atlântico em veleiros e
usando o comboio para deslocações na Europa.Foi
assim que aconteceu, quando a caminho da cimeira da ONU sobre o clima,
em Madrid, passou este mês por Lisboa, onde foi recebida na doca de
Santo Amaro por jovens ativistas, mas também pelo presidente da Câmara
Municipal, Fernando Medina, e representantes do parlamento.Ao
aparato à sua volta, a jovem sueca responde que não se sente uma
“estrela pop”. Ainda assim, foi obrigada a abandonar a manifestação em
que participava em Espanha, por recomendação da polícia.À
COP 25, Greta Thunberg levou preocupações, mas também esperança, embora
considere que a esperança está em cada cidadão e não tanto nos governos
ou nas grandes empresas. "Não há sentido
de urgência porque os nossos líderes não se comportam como se houvesse",
afirmou perante uma plateia de dezenas de delegações nacionais e de
organizações, defendendo que só a "pressão popular" os pode levar a
agir.Enquanto decorria a cimeira de
Madrid, que terminou no domingo com resultados desapontantes, Greta
Thunberg foi eleita “Personalidade do Ano” pela revista Time.Na
eleição realizada também entre os jornalistas da Lusa, a ativista sueca
foi a vencedora entre uma lista de nomeados para “Personalidade
Internacional do Ano 2019” que incluía o Papa, o primeiro-ministro
britânico, Boris Johnson, o primeiro-ministro etíope, Abiy Ahmed, e o
Presidente norte-americano, Donald Trump.Da
greve às aulas, que decidiu iniciar sozinha para protestar frente ao
parlamento sueco, depois das ondas de calor e incêndios que assolaram o
país, no ano passado, a adolescente ninspirou manifestações com milhares
de participantes em vários países e saltou para a capa da Time em maio.“Agora
estou a falar para o mundo inteiro”, escreveu ao partilhar o artigo nas
redes sociais a promotora das chamadas “sextas-feiras pelo futuro”, em
que muitos jovens faltam às aulas para exigir medidas dos governos em
defesa do ambiente. Nascida em Estocolmo
em janeiro de 2003, filha de uma cantora de ópera e de um ator, Greta
Thunberg tem motivado as mais diversas reações, com muitos dos críticos a
considerarem que está a ser manipulada ou que representa uma visão
radical na questão das alterações climáticas.Pelo caminho vai também recolhendo apoios e tentando dar a outros jovens um pouco do protagonismo que atraiu para si. A
reação que causou levou o filósofo e ecologista Viriato
Soromenho-Marques a afirmar que foi preciso aparecer uma criança para
dizer que “o rei vai nu”.