Administradora do HDES admite que o hospital modular foi escolha clínica
14 de mai. de 2025, 16:34
— Lusa/AO Online
“Há uma
tendência para dizer que a decisão foi da Paula Macedo. Eu sou diretora
clínica e represento muitas vozes, de muitos diretores de serviço, de
muitos responsáveis por unidades, portanto, sou a voz deles todos”,
insistiu a gestora hospitalar, ouvida na comissão parlamentar de
inquérito ao incêndio no HDES, reunida em Ponta Delgada.Paula
Macedo, que à data do incêndio era apenas diretora clínica do maior
hospital dos Açores, passou a acumular, desde novembro de 2024, essas
funções com as de presidente do Conselho de Administração, por entender
que a entrada de um novo elemento na gestão do HDES poderia interferir
com a retoma da atividade assistencial.“Foi
baseado apenas no facto de ter havido um atraso na estratégia do
hospital modular, que houve necessidade de se manter a mesma equipa, as
mesmas pessoas, e não haver interferência de um novo elemento no
Conselho de Administração”, justificou a gestora do HDES, durante a
audição parlamentar.A administradora
admitiu agora que, depois de a Secretaria Regional da Saúde e da
Segurança Social ter tomada a decisão de investir no hospital modular,
que custou mais de 30 milhões de euros, as relações entre o Conselho de
Administração (na altura, presidido por Manuela Gomes de Menezes) e a
direção clínica acabaram por se deteriorar.“Sempre
houve grande proximidade entre a direção clínica e a presidente e,
portanto, só há essa mudança no final de maio, início de junho”, lembrou
Paula Macedo, referindo-se ao período em que o Governo dos Açores,
presidido pelo social-democrata José Manuel Bolieiro (PSD), decidiu
adquirir uma estrutura modular para garantir a atividade assistencial
aos doentes do HDES.Durante a audição aos
deputados ao parlamento açoriano, a atual presidente do hospital e
diretora clínica confessou também que a determina altura do processo
ponderou demitir-se por entender que já não tinha condições para se
manter em funções, na sequência de algum "mal-estar" entre os
administradores.“Não conseguia manter-me
mais no Conselho de Administração, porque já tinha feito todos os
esforços e tudo aquilo que eu achava que estava ao meu alcance,
juntamente com os meus adjuntos da direção clínica”, recordou Paula
Macedo, acrescentando que estava disposta a “sair, sem qualquer
problema” e a dar lugar a outra equipa.A
administradora adiantou também que o mal-estar que, então, se vivia
dentro do Conselho de Administração do HDES resultou, em parte, das
declarações proferidas por António Vasco Viveiros, antigo deputado
regional eleito pelo PSD, que foi nomeado gestor do HDES logo após o
incêndio de 04 de maio de 2024, mas que acabou por ser exonerado no
final do ano, devido a alegadas divergências.“Logo
nos primeiros dias após a sua chegada e na primeira reunião do Conselho
de Administração na sua presença ter dito que iria acabar com o
protagonismo da direção clínica. Isto foram palavras utilizadas por
ele”, lembrou Paula Macedo, considerando tratar-se de uma "falta de
respeito".O responsável pelos Cuidados
Intensivos do HDES, Abel Alves, criticou, por outro lado, as previsões
dos serviços de manutenção daquela unidade de saúde (na altura
coordenados por Vasco Viveiros), que apontavam para a possibilidade de o
hospital poder reabrir em agosto do ano passado, logo após o incêndio e
após intervenções de limpeza e reabilitação.Segundo Abel Alves, “era impossível reabrir em agosto, em segurança”.A
Comissão de Inquérito ao Incêndio no HDES, criada por proposta
potestativa da bancada do PSD na Assembleia Regional, termina na
quinta-feira mais uma ronda de audições parlamentares destinadas a
apurar as causas e as consequências do incêndio no HDES e também o
desempenho do governo regional.No dia 04
de maio de 2024, o HDES, o maior hospital dos Açores, foi afetado por um
incêndio, que obrigou à transferência de todos os doentes para outras
unidades de saúde da região, da Madeira e do continente.Os
serviços do hospital reabriram de forma faseada e foi instalado um
hospital modular junto ao edifício do HDES, que será alvo de obras de
recuperação e modernização.