Autor: Lusa
Leoter Viegas, que preside à Associação de Imigrantes nos Açores (AIA), disse à agência Lusa que a região “consegue absorver na totalidade a comunidade imigrante que a procura para viver”.
“A esmagadora maioria destes imigrantes estão integrados no mercado de trabalho e na sociedade açoriana”, afirma o presidente da AIA, que destaca também como fator que favorece a integração o facto de se tratar de “uma região pequena, dispersa em nove ilhas”, havendo imigrantes em todas elas.
Leoter Viegas considera que outro dos fatores que contribuem para uma boa integração é os Açores “continuarem a ser uma região de emigração”, o que é relevante para a sensibilização do fenómeno, combatendo-se assim a “falta de mão-de-obra em vários setores de atividade”.
De forma acentuada nas últimas décadas do século XX, os açorianos emigraram para os Estados Unidos e Canadá, estimando-se que a comunidade açoriana atinja nestes países mais de dois milhões de pessoas, tendo saído em busca de maior qualidade de vida e do chamado “american dream” [“sonho americano”], como acontece hoje com os imigrantes que procuram a região.
Leoter Viegas adiantou que “não tem havido grandes problemas relativamente à integração dos imigrantes nos Açores”, contrariamente a casos registados no continente”.
“Não vamos criar o alarme de dizer que há situações muito complicadas. Estamos sempre atentos para o surgimento desses fenómenos, sendo que já houve alguns relatos de alguns imigrantes discriminados nos locais de trabalho e atendimento nos serviços públicos”, reconheceu.
O presidente da AIA sublinhou que tanto o Governo dos Açores como os municípios são sensíveis ao fenómeno e têm o “entendimento que é necessário promover políticas de integração dos imigrantes”, bem como que a mão-de-obra estrangeira “é importante para a região”.
O executivo açoriano tem promovido “algumas ações que vão ao encontro da boa integração”, como cursos de língua portuguesa e integração dos imigrantes no sistema de saúde e ensino, mas considera ser necessário o reforço dessas medidas face ao esperado aumento da imigração.
O responsável AIA defendeu, também, o reforço dos serviços públicos que lidam com os imigrantes, como a Segurança Social, bem como se devem “formar as pessoas para que possam ter um conhecimento mais adequado sobre a nova realidade dos Açores”, que “se tornou uma região de imigração”.
“Os Açores estão a ser uma região atrativa para os imigrantes porque estão a crescer, a criar emprego e há muitas empresas que precisam de mão-de-obra”, afirmou Leoter Viegas.
O responsável destacou também o fenómeno dos nómadas digitais na região, que “encontram um ecossistema propício para trabalhar” e representam já um “número significativo”.
Nos Açores existe um universo de cerca de oito mil imigrantes, mas assistiu-se a um aumento de 30% face a dados de 2023, de acordo com a AIA.
O responsável refere que a estrutura da imigração nos Açores “mudou ao longo do tempo”, tendo-se acolhido numa fase inicial, nos finais dos anos 90 e inícios de 2000, pessoas oriundas da União Europeia (40% dos imigrantes), depois dos países africanos de língua oficial portuguesa, a par dos brasileiros (25 a 30%) e da Europa da Leste (Rússia e Ucrânia).
A “nova realidade” que emerge é um “fluxo considerável de imigrantes vindos dos países asiáticos”, com predominância de cidadãos do Nepal, que “já têm um peso significativo na estrutura dos cidadãos residentes nos Açores”, a par de imigrantes da Índia e Bangladesh, bem como da Argentina e Colômbia, sendo que na região residem pessoas oriundas de 98 países, referiu.