Açores registam aumento de dependências nos jovens
13 de dez. de 2022, 11:30
— Lusa/AO Online
“Vai
muito público jovem para as comunidades terapêuticas no continente e
isso é um fator preocupante. No continente, o público jovem acudia às
comunidades terapêuticas em maior número sensivelmente há 10 anos. Nos
Açores agora é que estão a encaminhar muitos jovens para as comunidades
terapêuticas. Há aqui uma 'décalage' de 10 anos que estamos a tentar
perceber e a seguir o percurso que no continente houve”, avançou, em
declarações aos jornalistas, o diretor regional com a pasta do Combate
às Dependências nos Açores, Pedro Fins.O
executivo açoriano (PSD/CDS-PP/PPM) entregou, em Angra do
Heroísmos, uma viatura à Unidade de Saúde de Ilha da Terceira para o
programa Percursos, que presta apoio no tratamento, reinserção e a
minimização de riscos a toxicodependentes em regime de ambulatório.Na
ilha Terceira, este programa chega atualmente a 125 pessoas, por dia,
mas em São Miguel, em parceria com as associações Alternativa e Arrisca,
já atinge as 500 e a ilha tem quatro viaturas deste género, uma das
quais destinada exclusivamente a menores.Segundo
o diretor regional, em São Miguel, há jovens com “13, 14 e 15 anos” em
tratamento e o problema das dependências é “bem pior”, por isso é
exigida uma atenção redobrada e uma articulação entre várias entidades.“Em São Miguel, existe muito público menor. Sabemos que o público menor tem de ser muito mais acompanhado”, sublinhou.Com
um custo de 38.500 euros, a nova viatura do programa Percursos na ilha
Terceira vai permitir prestar um apoio com mais “confidencialidade e
dignidade” aos utentes.Para além da
substituição opiácea, o programa, que percorre toda a ilha de segunda a
sexta-feira, prevê a troca de seringas e agulhas e a entrega de
preservativos, para “combater as doenças infetocontagiosas”.Segundo
Pedro Fins, o apoio em ambulatório é a “porta de entrada” no tratamento
para muitos utentes, mas o objetivo é encaminhá-los para um “tratamento
mais consistente” junto das unidades de saúde, onde há também apoio
médico, psicológico e social, e, numa fase seguinte, para o programa
“livre de drogas”.O diretor regional
admitiu que muitos utentes “não vão conseguir” chegar à abstinência
total, mas ressalvou que o sucesso do programa é medido também pela
“redução de consumos” e pela reinserção social.“Temos
de ir progressivamente. É um cuidar um bocado resiliente e um bocado
insistente por parte de toda a equipa multidisciplinar”, reforçou.Na
cerimónia de entrega da nova viatura, o secretário regional da Saúde e
Desporto, Clélio Meneses, que tutela a área do Combate às Dependências,
admitiu que a região ainda apresenta uma situação “preocupante”.“Os
Açores têm tido infelizmente números muito elevados ao nível do consumo
de substâncias psicoativas. As novas substâncias psicoativas têm um
impacto muito grande na região”, apontou.Clélio
Meneses disse que a “prevenção” é a principal aposta do executivo, mas
reconheceu que há também necessidade de intervenção no tratamento, na
redução de riscos e na minimização de danos, apelando à colaboração de
toda a sociedade.“Precisamos do
envolvimento de todos na prevenção, mas também no fim da estigmatização
deste tipo de situação porque, para além da penosidade das consequências
imediatas e diretas dos consumos, há uma outra penosidade acrescida da
estigmatização e da exclusão social”, frisou.