Açores já estão mais expostos a eventos extremos
23 de jan. de 2020, 10:15
— Lusa/AO Online
"Nós já estamos
mais expostos a eventos extremos. Estamos, tenho afirmado isso, dentro
de uma alteração climática. A atmosfera dos Açores não é a mesma que nós
tínhamos no início dos anos 70, por exemplo", afirmou à Lusa Fernanda
Carvalho.A especialista falava na
conferência "As alterações climáticas e o aumento de eventos extremos
nos Açores', promovida pela Faculdade de Ciências e Tecnologia da
Universidade dos Açores, em Ponta Delgada, na ilha de São Miguel. Fernanda
Carvalho salientou que os níveis de dióxido de carbono medidos na ilha
Terceira mostram que os Açores apresentam os mesmos níveis de referência
mundial, pelo que a região irá acompanhar as "tendências a nível
global" ao nível da seca, chuva intensa e aumento da temperatura do ar. "Vamos
continuar a acompanhar as tendências a nível global: aumento da
temperatura, diminuição da precipitação e aumento de fenómenos
extremos", referiu. Ao nível dos fenómenos
extremos, a especialista dá o exemplo dos períodos de seca (número de
dias consecutivos com precipitação inferior a um milímetro), de um maior
número de dias com precipitação forte (superior a 20 milímetros) e o
aumento de noites tropicais (noites com temperatura mínima de 20 graus
Celsius). "Pelo facto de a temperatura
aumentar, em linguagem clara, a capacidade da atmosfera reter vapor de
água é maior. Portanto, a quantidade de água que ela aguenta sem
precipitar é maior, mas quando precipita o evento também é mais
intenso", assinalou, para justificar o aumento dos períodos de seca e de
precipitação intensa. Fernanda Carvalho
adiantou que entre a década de 70 e 2018 a temperatura nos Açores tem
vindo aumentar 0,16 graus kelvin por década, um aumento "significativo",
considerou. Também ao longo deste período, a água do mar em Ponta Delgada registou uma tendência de subida de cerca de 3,80 milímetros. "Uma coisa é certa, terá de haver um ajustamento, uma adaptação social e económica para as novas situações", assinalou.A
especialista do IPMA defendeu que o "ajustamento" às alterações do
clima "partirá sempre de iniciativas políticas" que devem estar "de
acordo" com os cientistas, não negando, contudo, o papel do cidadão
comum, que deve ser "mais proativo" e optar por energias alternativas em
detrimento de combustíveis fosseis. No
caso dos Açores, Fernanda Carvalho destacou a pesca e agricultura como
dois setores que deverão sofrer "ajustes", optando por "diferentes tipos
de cultura" ou por outras espécies. "Se
calhar um animal que consome muita água, possivelmente uma vaca com um
porte tão grande, poderá ser substituída por uma vaca de porte mais
pequeno e com menor consumo de água", exemplificou.