Açores em megaprojeto europeu para caracterizar ecossistemas de profundidade
3 de nov. de 2017, 17:24
— Lusa/AO online
"O projeto visa a
caracterização dos ecossistemas de profundidade no Atlântico Norte",
afirmou â agência Lusa Maria Carreiro Silva, responsável pelo
Deep-SeaLab, declarando que se estenderá até 2020. Financiada
pela Comissão Europeia, através do programa Horizonte 2020, a iniciativa
contempla 25 expedições, tendo 12 universidades envolvidas, contando
ainda com a participação de dez países da UE, incluindo Portugal, bem
como dos EUA e Canadá. A investigadora referiu que se pretende
com esta iniciativa "aumentar o conhecimento, promovendo a extensão
desses ecossistemas formados por organismos muito sensíveis a todos os
impactos", que "crescem muito lentamente, vivendo muito tempo", como são
os corais. As equipas de investigação do Deep-SeaLab, com sede
na Horta, ilha do Faial, estão a promover no âmbito do projeto a
caracterização dos 'habitats' formados por corais e esponjas marinhas
nos Açores, tentando "perceber como é que são afetados pela pesca e
outras atividades humanas, bem com as políticas de conservação a
desenvolver". Maria Silva, especialista em microbiologia,
ecologia e biologia marinha, referiu que se está a falar de um 'habitat'
para vários organismos, incluindo peixes com interesse comercial". "Já
tínhamos feito algum trabalho de caracterização com vídeo ROV, (veículo
operado de forma remota), para investigar o fundo do mar, nomeadamente
as comunidades de corais e esponjas", declarou. A especialista
afirmou, por outro lado, que a recuperação de uma comunidade de corais e
esponjas "pode demorar centenas de anos, uma vez que estes organismos
crescem muito lentamente, um ou dois milímetros por ano". O
Deep-SeaLab do Instituto do Mar, onde estão a decorrer ensaios
experimentais com corais de profundidade, é o único laboratório em
Portugal que mantém organismos de profundidade. O laboratório
dedica-se à experimentação com organismos de profundidade, situados a
mais de 200 metros, como os corais e mexilhões das fontes hidrotermais,
por exemplo. Possui vários aquários para a realização de
experiências com vista à manipulação da temperatura e a acidez da água, a
par da simulação de eventos de sedimentação e com metais pesados. Ainda
de acordo com Maria Silva, aquela unidade de investigação está também a
realizar experiências para testar o efeito das alterações climáticas,
com base nos corais, pretendendo-se "apurar a sua capacidade de
sobrevivência, se a sua fisiologia vai alterar-se, se continuam a
crescer e a desenvolver-se como habitualmente". A responsável
pelo Deep-SeaLab referiu, ainda, que no âmbito do projeto europeu Merces
estão a ser desenvolvidas técnicas de recuperação de comunidades no mar
profundo que são impactadas pela pesca e outras atividades humanas. "No
fundo, uma das ações que desenvolvemos é a replantação de corais que
tenham sido removidos por uma atividade humana, usando estruturas
metálicas, à semelhança do que se faz nas florestas com a replantação
das árvores", especificou. A investigadora explicou que os corais
formam ecossistemas estruturantes, sendo "uma espécie bioengenheira que
cria uma estrutura tridimensional, servindo de 'habitat' para um grande
número de organismos, incluíndo os peixes comerciais, sendo muito
abundantes nos Açores nos montes submarinos e encostas das ilhas".