Açores defendem medidas “mais restritivas” à pesca de tunídeos no Atlântico
16 de out. de 2017, 13:02
— Lusa/AO Online
"Propusemos à Comissão Europeia que, no âmbito da
Comissão Internacional para a Conservação de Atuns do Atlântico (ICCAT),
fosse aplicada uma limitação mais restritiva no uso de FAD
[dispositivos artificiais agregadores de peixe] na pescaria de tunídeos,
de modo a evitar a sobrepesca e diminuir os impactos negativos do seu
uso na rota migratória destas espécies", afirmou o secretário regional
do Mar, Ciência e Tecnologia dos Açores, Gui Menezes.O
governante, que falava na Horta, na sessão de abertura da I Conferência
Internacional de Pesca de Atum de Salto e Vara, a decorrer até
quarta-feira na ilha do Faial, insurgiu-se, sobretudo, contra a
utilização excessiva de FAD junto à costa africana que, no seu entender,
poderá estar a impedir a migração de atuns para os mares dos Açores.Para
Gui Menezes, a gestão dos tunídeos, que é feita a nível internacional,
deve "discriminar positivamente" artes de pesca mais seletivas, como é o
caso do salto e vara com isco vivo, método utilizado pela frota
atuneira açoriana e por muitas outras frotas internacionais que se
preocupam com a sustentabilidade das pescarias."Pretendemos
continuar a exigir a diminuição dos dispositivos concentradores de atum e
a abertura de corredores migratórios livres destes dispositivos",
insistiu o governante, que propõe, também, a criação de "faixas
marítimas livres de dispositivos agregadores de peixe" como forma de
preservar o futuro dos ‘stocks’.Gui Menezes referiu ainda que a
ICCAT aprovou recentemente uma recomendação no sentido de limitar o uso
destes dispositivos artificiais agregadores de peixe por embarcação, que
passam a estar limitadas ao máximo de 1.500 dispositivos a bordo."Na
nossa opinião, este número é ainda demasiado elevado. No entanto,
congratulamo-nos pelo facto de a ICCAT ter criado um grupo de trabalho
para estudar o efeito destes dispositivos, embora saibamos que deverá
levar algum tempo até obtermos algum resultado", admitiu o secretário
regional que tutela as pescas.Gui Menezes adiantou que nos
últimos anos se tem assistido igualmente a uma "deslocalização massiva"
das embarcações que pescam atum com a arte de cerco, o que "também está a
afetar a abundância de tunídeos" em águas açorianas. "Pretendemos,
pois, que a Comissão Europeia proponha uma restrição no que respeita ao
número de embarcações licenciadas a operar com a arte de cerco,
destinadas à captura de tunídeos em todo o Atlântico", defendeu o
secretário do Mar dos Açores, assinalando que estão licenciadas para
este tipo de pescaria cerca de 590 navios.Para o governante, é
muito importante que se valorize artes de pesca mais seletivas, como é o
caso da pesca do atum de salto e vara e com isco vivo, que já "faz
parte do património social e cultural dos Açores", além de ter um papel
"fundamental" para a indústria conserveira da região, que emprega cerca
de 900 trabalhadores e labora cerca de 20 mil toneladas de peixe por
ano. "Esta é uma indústria que gera, anualmente, cerca de 66
milhões de euros e que tem sabido criar novas linhas de produtos que se
têm revelado determinantes na nossa afirmação nos mercados
internacionais e cuja qualidade é amplamente reconhecida", destacou Gui
Menezes.