Açores assinam protocolo com Universidade de Coimbra para melhorar combate à pobreza
15 de nov. de 2022, 15:31
— Lusa/AO Online
“Vamos
tentar fazer algo de novo, que não seja, pelo menos, igual ao que foi
feito durante 37 anos e que nos dê a esperança e o alento de mudar
alguma coisa. É mesmo para mudar, senão não vale a pena”, afirmou Artur
Lima, que tutela a área da Solidariedade Social, em Angra do Heroísmo, à
margem da assinatura de um protocolo de cooperação com o Centro de
Estudos Sociais da Universidade de Coimbra.O
vice-presidente do executivo de coligação PSD/CDS-PP/PPM salientou que o
combate à pobreza “não se pode fazer apenas com medidas
assistencialistas”, defendendo uma intervenção articulada entre as
pastas do Emprego, da Educação e da Segurança Social.“Custa-me
que uma terra tão extraordinária como a nossa, com tantas
oportunidades, leve sempre com a mesma etiqueta há 37 anos. É tempo
demais. Vamo-nos esforçar para trazer alguma mudança”, frisou.Segundo
dados do Instituto Nacional de Estatística (INE) relativos a 2020, os
Açores apresentavam uma taxa de risco de pobreza de 21,9%, menos 6,6
pontos percentuais do que em 2019.O
anterior executivo açoriano (PS), que governou a região até 2020, lançou
uma estratégia regional de combate à pobreza e exclusão social para o
período entre 2018 e 2028.Um grupo de
trabalho do atual governo (PSD/CDS-PP/PPM) reavaliou a estratégia e esse
trabalho preliminar será avaliado, durante um ano, pelos investigadores
da Universidade de Coimbra, que contam com a colaboração de equipas
locais.O trabalho vai permitir, segundo o
vice-presidente, consolidar a estratégia de combate à pobreza, “na
definição de objetivos ou eixos de ação” e na “formulação de medidas
práticas”.“Será fulcral para a
implementação de um verdadeiro sistema de monitorização e acompanhamento
da estratégia, que inclua indicadores de realização e de impacto
associados a cada um dos eixos estratégicos definidos”, acrescentou.Sociólogo
e investigador do Centro de Estudos Sociais da Universidade de Coimbra,
José Manuel Mendes volta a estudar a pobreza na terra onde nasceu, 37
anos depois de ter assumido funções como coordenador das casas do povo,
precisamente para estudar a pobreza, num governo do PSD.“Foi
uma pequena surpresa verificar que os territórios de intervenção
prioritária são os mesmos de 1985. Não é possível que em 37 anos
estejamos a ler as mesmas terras”, afirmou.O
investigador salientou que a pobreza “não é uma fatalidade”, alegando
que o índice de vulnerabilidade social já testado no Reino Unido, em
Portugal e no Brasil já comprovou que é possível tirar as pessoas da
pobreza.“É preciso mudar. Daqui a 10 anos
não podemos estar com as mesmas terras, com os mesmos sítios. Tenho
dúvidas até se a estratégia de territórios prioritários é a mais
adequada, mas isso depois veremos com a equipa”, apontou.José Manuel Mendes alertou, no entanto, para o impacto da inflação e da crise energética, que vai afetar também a classe média.“Esse
impacto vai ser enorme e veremos as consequências que terão na região
autónoma e a forma que teremos de propor algo que consiga mitigar e
mobilizar as pessoas para deixarmos de ser uma região etiquetada com
todos estes números”, apontou.O diretor do
Centro de Estudos da Universidade de Coimbra, António Sousa Ribeiro,
reforçou a importância de as decisões políticas serem sustentadas em
estudos científicos e avaliações rigorosas.“Estou
convicto que, daqui a um ano, haverá um diagnóstico e um conjunto de
propostas que possa ser relevante para levar a cabo este combate que tem
grande importância”, vincou.