Acordos inéditos do PS com BE, PCP e PEV foram assinados há dois anos
9 de nov. de 2017, 08:43
— Lusa/AO Online
Os acordos
políticos – designados de posições conjuntas – entre a esquerda
parlamentar foram assinados pelos respetivos líderes nacionais
partidários (António Costa, PS, Catarina Martins, BE, Jerónimo de Sousa,
PCP, e Heloísa Apolónia, PEV) a meio do dia no edifício novo da
Assembleia da República, num gabinete do PS, e sem a presença da
comunicação social.Horas
depois, a moção de rejeição apresentada pelo PS ao Programa do XX
Governo Constitucional foi aprovada com 123 votos favoráveis do PS, BE,
PCP, PEV e PAN, o que implicou a demissão do executivo PSD/CDS-PP,
liderado por Pedro Passos Coelho (primeiro-ministro) e Paulo Portas
(vice-primeiro-ministro). A moção teve 107 votos contra provenientes das
bancadas do PSD e do CDS-PP.Ao
Governo PSD/CDS sucedeu assim um executivo minoritário do PS apoiado no
parlamento pelos restantes partidos da esquerda: BE, PCP e PEV.Os
textos dos acordos sobre a solução política inédita na democracia
portuguesa tinham três páginas e cinco pontos praticamente idênticos. Ao
entendimento com o BE, acresciam mais três páginas de anexos e no
documento assinado com o Partido Ecologista "Os Verdes" (PEV) constavam
mais sete páginas de anexos.PONTOS COMUNS -
Nos três acordos são elencadas as medidas em que foi possível convergir
(e que tiveram tradução na proposta de Programa de Governo do PS,
aprovada na Comissão Nacional do partido), como o descongelamento das
pensões, a reposição dos quatro feriados suspensos, a redução para 13%
do IVA da restauração, a revogação das alterações à Lei de Interrupção
Voluntária da Gravidez ou a não admissão de qualquer novo processo de
privatização, entre outras. -
Os três partidos comprometem-se, "não escondendo do povo português
diferenças quanto a aspetos estruturantes da visão de cada partido", a
"virar a página das políticas que traduziram a estratégia de
empobrecimento seguida por PSD e CDS", defender as funções sociais do
Estado e "conduzir uma nova estratégia económica assente no crescimento e
emprego, no aumento do rendimento das famílias e na criação de
condições para o investimento público e privado". -
PCP, BE e PEV reconhecem que seria mais exigente construir “um acordo
sobre um governo e um programa de governo" único entre os quatro
partidos. No entanto, salientaram haver convergência necessária para se
comprometerem com o PS a rejeitar "qualquer solução que proponha um
governo PSD/CDS" e a derrotar "qualquer iniciativa que vise impedir a
solução governativa alternativa". -
Os três partidos comprometem-se a fazer com o PS "o exame comum quanto à
expressão que as matérias convergentes identificadas devem ter nos
Orçamentos do Estado, na generalidade e na especialidade" e a examinar
medidas e soluções que podem, fora do âmbito do Orçamento do Estado, ter
concretização mais imediata". -
Os três partidos irão examinar com o PS, em reuniões bilaterais, outras
matérias relacionadas com "legislação com impacto orçamental, moções de
censura ao Governo, iniciativas legislativas oriundas de outros grupos
parlamentares, iniciativas legislativas que, não tendo impacto
orçamental, constituam aspetos fundamentais da governação e
funcionamento da Assembleia da República”. -
Nos três textos é referido que as posições bilaterais assinadas não
limitam outras soluções alargadas aos partidos de esquerda. PONTOS QUE CONSTAM NO ACORDO DO PS COM O BE -
No anexo do acordo firmado entre PS e BE, assinado pelo
secretário-geral do PS, António Costa, e pela coordenadora nacional do
BE, Catarina Martins, estava prevista a criação de grupos de trabalho,
compostos por representantes dos partidos signatários e pelo membro do
governo que tutela a área respetiva, e que deverão elaborar relatórios
semestrais, sobre "áreas fundamentais" da governação.O
acordo prevê a criação de grupos de trabalho para a elaboração de um
Plano Nacional Contra a Precariedade, para o estudo sobre pensões não
contributivas e estrutura da proteção social, para a avaliação da
sustentabilidade da dívida externa, para a avaliação dos custos
energéticos com incidência sobre as famílias e propostas para sua
redução e um último sobre a política de habitação, crédito imobiliário e
tributação do património imobiliário. -
O BE sublinha no anexo ao acordo com o PS algumas das medidas que não
constam da proposta de Programa de Governo do PS e que constavam do
programa eleitoral socialista, como o regime conciliatório ou a redução
da Taxa Social Única, bem como a inclusão de medidas que não estavam
inicialmente no programa dos socialistas, como a reposição até ao final
de 2016 dos salários dos funcionários públicas ou a reposição da norma
que determina a atualização anual das pensões.- Ainda no anexo ao acordo é referido que “o Salário Mínimo Nacional atingirá os 600 euros durante a presente legislatura”.-
PS e BE acordaram também "retirar da fatura da energia elétrica a
Contribuição do Audiovisual e incorporá-la no universo das comunicações
sem perda de receita para a RTP". PONTOS QUE CONSTAM APENAS NOS ACORDOS DO PS COM PCP E PEV -
PCP e PEV sublinham outras matérias, em que não houve acordo com o PS,
mas nas quais "se regista uma convergência quanto ao enunciado dos
objetivos a alcançar", incluindo neste âmbito a reposição dos salários
dos funcionários públicos em 2016, a reposição do horário de trabalho de
35 horas, a eliminação da sobretaxa do IRS ou a eliminação do
“obstáculo que as taxas moderadoras constituem no acesso ao Serviço
Nacional de Saúde. PONTOS QUE CONSTAM NO ACORDO DO PS COM O PEV -
O Partido Ecologista "Os Verdes" inclui nos pontos em que foi possível
chegar a acordo com o PS duas medidas que não constam nos textos de PCP e
BE: "A não privatização do setor da água em alta e o desenvolvimento da
rede ferroviária nacional nomeadamente de passageiros".-
“Os Verdes” salientam, nos anexos do acordo, as questões apenas
levantadas por este partido e que ficaram consagradas no programa do PS,
como a reversão da fusão das empresas de água, a travagem da expansão
do eucalipto e o apoio às fileiras florestais autóctones, a reavaliação
do Programa Nacional de Barragens e a revisão da Convenção de Albufeira.-
“Os Verdes” destacam ainda no anexo do acordo político medidas para
“garantir a mobilidade das pessoas” e o desenvolvimento de um plano
estratégico para a mobilidade “centrado no transporte ferroviário”.