Acesso dos imigrantes a direitos “é importante para lá da pandemia"
1 de jul. de 2020, 08:33
— Lusa/AO Online
Em
finais de março, o Governo publicou um despacho informando que todos os
cidadãos estrangeiros com processos pendentes no Serviço de
Estrangeiros e Fronteiras (SEF) à data de 18 de março, quando foi
declarado o estado de emergência, passariam a ter acesso às prestações
sociais e aos serviços de saúde nas mesmas condições dos cidadãos
nacionais.“Criar essa possibilidade foi
excecional e um sinal de que existe essa vontade política, que é muito
importante, de dar a todos a possibilidade de existirem de forma plena,
numa sociedade, com acesso a direitos”, considera, na primeira
entrevista desde que assumiu funções, em março, a alta-comissária para
as Migrações, Sónia Pereira, acrescentando ao lote dos direitos básicos a
educação e a habitação.Em conversa com a
Lusa na sede do Alto Comissariado para as Migrações, em Lisboa, Sónia
Pereira sublinhou que não lhe compete “dar a garantia” de que o
mecanismo criado pelo Governo sobreviverá à pandemia, mas não esconde
que “é importante que haja acesso a direitos básicos… para lá da
pandemia”.Assinalando que “há coisas
positivas que se instalam em momentos de crise” e que “pode ser que
algumas delas possam perdurar”, a alta-comissária sublinha que “tudo
também depende dos contextos que viermos a enfrentar no futuro, as
decisões que possam vir a ser tomadas provavelmente não vão estar
desligadas do contexto, quer económico, quer das necessidades sociais e
de saúde”.A decisão do Governo foi
elogiada pelas associações que trabalham junto das comunidades
imigrantes, que, porém, alertaram também para os que ficaram de fora.Reconhecendo
que o número concreto é “difícil de obter”, Sónia Pereira recorda que,
em Portugal, para entrar no sistema e iniciar o processo de
regularização, um migrante tem apenas de fazer uma “manifestação de
interesse” de que vem para trabalhar, “por conta de outrem ou conta
própria”.“Não me parece que seja
expectável pensar que há muitas pessoas que possam ter ficado de fora
desse regime”, acredita, ainda que admita que possa haver “alguma
questão com aqueles que chegaram após” a data da declaração do estado de
emergência.“Problemas existem sempre (…)
Ocasionalmente, chega uma queixa de que houve um problema, num serviço
de saúde, mas resolve-se. Que seja uma avalancha de queixas de
dificuldade de acesso, não”, assinala, frisando que “seria preocupante
ter criado um mecanismo legal que permite o acesso a um direito e
depois, na prática, não vermos isso a acontecer”.As
associações que trabalham junto das comunidades imigrantes e as
entidades públicas responsáveis “têm feito um excelente trabalho na
divulgação, mas também na sensibilização dos serviços” para a proteção
legal dos imigrantes, realça Sónia Pereira.“Não
basta sair um despacho, é importante que depois esse despacho seja
acompanhado de um trabalho de terreno muito eficaz”, salienta a
especialista em migrações e políticas migratórias, áreas em que trabalha
desde 2000.