Abusos sexuais 'online' contra crianças estão a aumentar de forma perigosa
15 de dez. de 2024, 18:27
— Lusa
Em
entrevista à agência Lusa, quando termina o segundo mandato à frente da
direção do IAC, no qual trabalhou cerca de 20 anos, Dulce Rocha
destacou os abusos sexuais 'online' como o principal perigo atual para
as crianças e jovens.Defendeu que é
preciso chamar as várias plataformas e travar a difusão de conteúdos
abusivos, dando como exemplo o caso do Reino Unido, onde foram aprovadas
“leis muito limitativas dos conteúdos abusivos”, que permitem o seu
bloqueio.Dulce Rocha apontou que “tem sido
muito difícil conseguir o consenso” dos estados-membros da União
Europeia e alertou que “atualmente, quer o discurso de ódio, quer os
conteúdos abusivos estão a aumentar de uma forma assustadora”.“Há
muito a fazer e os deputados europeus não podem apenas preocupar-se com
questões financeiras [porque] a questão da segurança das crianças é
fundamental”, disse a responsável.“Se não tivermos segurança nas crianças, não temos segurança em sítio nenhum”, acrescentou.Alertou
que o facto de “a criança estar no quarto, não significa estar segura” e
que, por isso, deve haver maior diálogo nas famílias e nas escolas, já
que as crianças e jovens “sabem muito mais de internet dos que os
adultos”, mas os adultos percebem muito melhor a questão dos perigos e
da insegurança.“Quando estão nas redes
[sociais] escapam-nos muitos meninos, muitos jovens e isso está a ser um
bocado dramático e devíamos todos sentar-nos à mesa para perceber
melhor o funcionamento e de que forma poderíamos proteger estas
crianças”, defendeu Dulce Rocha.Apontou
também como uma realidade “muito preocupante” o crime de violência
doméstica, um fenómeno “que é muito difícil de combater”, defendendo que
“talvez seja importante não utilizar sempre os mesmo métodos” e que "a
legislação não acompanhou a realidade”.Sobre
esta questão, considerou ser “inadmissível o crime de violência
doméstica continuar a poder ser perpetrado várias vezes e ser só um
crime”.“Ao fim de 20 anos de violência, o
indivíduo é punido por um crime de violência doméstica”, criticou,
apontando igualmente o dedo ao facto de Portugal continuar sem ter o
femicídio tipificado como crime.Ainda em
relação ao crime de violência doméstica, a presidente do IAC chamou a
atenção para o impacto e consequências psicológicas que tem nas
crianças, lamentando que não tenham acesso a programas de recuperação
psicológica “porque ainda não se entendeu que essas crianças são mesmo
vítimas”.Defendeu, por outro lado, que “o
segredo é sempre confiar na vítima, confiar nas mulheres, confiar nas
crianças”, alertando que "a permanente atitude de desconfiança
relativamente à vítima, é muito devastadora”.Dulce
Rocha disse ainda que é preciso rever a linguagem nas decisões
judiciais, que classificou de “retrógrada” e “culpabilizante” para a
vítima.