Abusos sexuais na Igreja Católica “não têm desculpa”
12 de out. de 2022, 17:36
— Lusa/AO Online
Em
conferência de imprensa, no Santuário de Fátima, onde esta quarta-feira começa a
peregrinação internacional aniversária de outubro, José Ornelas, também
bispo da Diocese de Leiria-Fátima, reconheceu que estes são “estes
acontecimentos trágicos e dramáticos que não têm desculpa, nem nunca
deviam ter acontecido”.“Mas estamos num
ponto, também nós, de viragem”, garantiu, assinalando que a constituição
da Comissão Independente para o Estudo dos Abusos Sexuais contra as
Crianças na Igreja Católica Portuguesa “significa um esforço grande” que
a instituição está a fazer, porque não se conforma com aquilo que sabe
que, “infelizmente, existiu também na Igreja”.Sobre
os casos que o visam particularmente, declarou-se “tranquilo”, frisando
não ter havido “nenhuma manobra de encobrimento” e não ter sido
contactado pelo Ministério Público.Questionado
sobre os 424 testemunhos recebidos pela comissão, número divulgado na
terça-feira, José Ornelas salientou que não se trata de uma “questão de
números”.“O que queremos é saber a
realidade que existe”, sublinhou, notando que “por detrás de cada
número” está uma pessoa e que o importante é “dizer o sofrimento que
cada um destes casos comporta”.Para o
presidente da CEP, que se escusou a comentar as palavras do Presidente
da República, Marcelo Rebelo de Sousa, sobre os números divulgados,
“para mim qualquer numero é sempre demasiado”, mas, independentemente
destes, insistiu que à Igreja Católica interessa conhecer os casos.“O
pior que nós podemos ter é não conhecer e viver com um peso
desconhecido sobre nós, isto é a primeira coisa. A segunda é que para
nós, Igreja, cada caso que acontece é uma derrota”, porque “alguém
sofre” e “porque alguém foi espezinhado nos seus direitos fundamentais e
de uma forma que é aquela que mais atingiria qualquer pessoa”, além de
que “contradiz radicalmente” o que é a Igreja.“Infelizmente,
eu não posso dizer que no futuro não vai acontecer, mas o nosso
trabalho e aquilo que estamos a fazer é para dizer ‘ponto zero’”,
assegurou.Classificando este problema como
uma praga que a todos envergonha e da qual a Igreja tem de se livrar,
José Ornelas salientou ainda que o “grande perdão” às vítimas é
“dar-lhes dignidade, lugar e voz, mas, ao mesmo tempo esforçar-se que
isto não volte a acontecer onde nunca devia ter acontecido”.Sobre
se estes acontecimentos colocaram em causa a credibilidade da Igreja
Católica, José Ornelas destacou que não ingressou nela pela perfeição,
pois é “feita de homens e mulheres”.“Isto
não me faz resignar, é por isso mesmo que é preciso transformar. (…) O
ser credível é o agir credivelmente e é isso que estamos a procurar
fazer. Encontrar caminhos de credibilidade e credibilidade significa
honestidade perante aquilo que somos, entre aquilo que somos, aquilo que
dizemos e aquilo que fazemos”, acrescentou.Sobre
o apoio às vítimas de abusos sexuais por parte de elementos da Igreja
Católica, adiantou que o apoio é “aquele que for pedido em cada caso”.Assumindo
que a “grande justiça é dar dignidade às pessoas” o presidente da CEP
frisou que as vítimas não podem ser “simplesmente esquecidas”, mas
também que a Igreja não se quer impor neste apoio.