De
acordo com a investigadora do Instituto de Ciências Sociais da
Universidade de Lisboa (ICS-UL), há várias ponderações a fazer para
encontrar governabilidade nos Açores, após as eleições legislativas que
se realizaram no domingo.“Por um lado,
temos a abstenção que foi a segunda mais elevada de sempre ao que
parece, portanto, apesar de ter havido uma diminuição em relação às
eleições anteriores continua elevada. Temos 55% de abstenção, o que é
surpreendente, tendo em conta a oferta partidária que existe com
partidos que já têm implantação a nível nacional e que não conseguem
diminuir a abstenção”, disse.Segundo a
especialista em Ciência Política, a maioria da população nos Açores com
direito de voto não foi às urnas, marcando um certo desinteresse.“Depois
temos a perda da maioria absoluta do PS, que é significativa no sentido
em que pode ter havido um desgaste na medida em que há um conjunto
muito grande de mandatos. No entanto, gostava de assinalar um pequeno
facto: António Costa foi o único líder partidário que não esteve em
campanha, que não foi aos Açores. O primeiro-ministro não arranjou tempo
para apoiar Vasco Cordeiro nesta batalha eleitoral”, salientou.No
entendimento de Marina Costa Lobo, a ausência de António Costa não foi
decisiva para o resultado, mas marcou o debate e um certo desinteresse.“O
PS não tem a maioria para formar governo, essa maioria pode estar à
direita e aqui colocam-se questões sérias. Assistimos a uma fragmentação
do eleitorado à esquerda e à direita e isso suscita questões
importantes quer para o PSD como para os outros partidos”, disse.E
acrescentou: “O PSD se entrar em coligações com partidos novos
recém-chegados está a legitimá-los e a permitir a prazo que eles se
consolidem o que até agora não aconteceu. Por outro lado, os pequenos
partidos que se apresentam como antissistema, se na primeira ocasião
fazem coligação com o PSD estão a negar essa própria condição da sua
natureza de antissistema”, explicou.Para
Marina Costa Lobo, os resultados eleitorais com a perda da maioria
absoluta revelam ser um sinal dos tempos, da grande fragmentação dos
partidos que se tem vindo a assistir.“Esta
fragmentação cria um contexto que coloca o ónus nas elites políticas
para decidir onde traçam as linhas vermelhas, quem são os parceiros
coligação aceitáveis e não aceitáveis e que portas querem abrir para a
legitimação partidária de outros”, frisou.Dos
resultados eleitorais, a investigadora do ICS-UL destacou também a
perda pelo PCP do único deputado que tinha, deixando de estar
representado na Assembleia Legislativa da Região Autónoma dos Açores.“É
um mau resultado para o PCP. Sistematicamente temos vindo a verificar
desde que o PCP disse sim à geringonça. É o partido que mais tem sofrido
nas urnas. Tem tentado de alguma forma manter-se na competição, mas tem
perdido a sua especificidade”, referiu.Para
a especialista em Ciência Política, é um sinal para todos os partidos
mais pequenos de que há risco na saída do papel da oposição para partido
que está disponível para pactos de governação.“É uma derrota a somar às que já teve nas autárquicas de 2017, legislativa e europeias”, concluiu.O
PS venceu as eleições legislativas regionais dos Açores de domingo, mas
perdeu a maioria absoluta que tinha no parlamento da região desde 2000.Os
socialistas elegeram 25 deputados, menos cinco do que há quatro anos, e
o PSD, o segundo partido mais votado, conseguiu 21 mandatos, mais dois
do que em 2016.O CDS-PP continua a ser o
terceiro partido com maior representação no parlamento regional, mas
perdeu um dos quatro mandatos conquistados há quatro anos.O
quarto partido mais votado foi o Chega, que pela primeira vez concorreu
às legislativas regionais e elegeu dois deputados, o mesmo número de
mandatos conseguidos pelo BE (mantendo o resultado de 2016).O PPM duplicou a sua representação parlamentar e passa a ter dois deputados (um deles eleito em coligação com o CDS-PP).As
eleições dos Açores de domingo marcam ainda a entrada pela primeira vez
no parlamento regional da Iniciativa Liberal (1) e do PAN (1).