Embora
não estivesse em Berlim em 1989, o então jovem de 23 anos decidiu ir
para a capital quando viu na televisão as imagens de milhares de pessoas
a manifestarem-se e a pedirem para viajar livremente.“Queria
ir lá gritar e fazer parte daquilo, mas não tinha a noção do que aquilo
ia ser”, contou à agência Lusa, adiantando que, este ano, é a primeira
vez que vai regressar ao local para os festejos.Ray
lembra-se que só começou mesmo a prestar atenção à situação quando viu,
em 1987, o discurso do então Presidente norte-americano, Ronald Reagan,
a pedir ao então líder da União Soviética “o senhor Gorbatchev” para
deitar o muro abaixo. “Vivi a vida toda
com a ideia de que o muro estava ali, nem pensava nisso, mas a reação
dos meus pais surpreendeu-me muito. Ficaram os dois presos à televisão e
olharam um para o outro”, recordou.“Acho
que toda a gente tinha alguém que ficou do outro lado [na Alemanha de
Leste] - amigos, família, conhecidos, antigos colegas – e era mais nisso
que se pensava: em rever pessoas que estavam ‘perdidas’”, disse,
acrescentando que, no caso da sua família, a reunião aconteceu entre
amigos do pai.O dia 09 de novembro de 1989
é um marco da história não só para a sua geração como para todos
aqueles que estavam vivos nesse dia, admitiu nas declarações à Lusa.“Estive
lá quando já havia partes derrubadas e muita gente queria levar bocados
para casa. Hoje tenho pena de não ter trazido uma pedra para mim”,
gracejou, confessando que há 35 anos “achava que isso não prestava para
nada”.Para o jovem da altura, a grande
questão era ver como era “o outro lado” e como “eram, de facto, as
pessoas” porque, apesar de ser possível espreitar por cima do muro em
alguns pontos, “não se sabia bem como é que ‘eles’ eram, o que estudavam
ou sequer se se podia falar à vontade com as raparigas”. Construído
em 1961, o muro de Berlim – feito inicialmente de pedras - tinha 160
quilómetros, um terço dos quais acompanhados de grades metálicas.A
divisão, que separava a República Federal Alemã da República
Democrática Alemã, contava ainda com 302 torres de observação, 127 redes
de arame eletrificado e 255 pistas de corrida para cães de guarda.O muro era patrulhado por militares da Alemanha de Leste, com ordens de atirar a matar quem tentasse atravessá-lo.Oficialmente, 80 pessoas morreram nessa tentativa durante a existência do muro (1961 a 1989).Três
décadas e meia depois, os festejos estão preparados e a cidade vai
comemorar em grande, com concertos e fogo-de-artifício, o símbolo da
queda da União Soviética e da chamada “Cortina de Ferro”.A
cerca de 1.500 quilómetros de distância, o Presidente russo, Vladimir
Putin, continua a guerra na Ucrânia e as tensões entre Rússia e
Ocidente, ou seja, Europa ocidental e Estados Unidos, e entre democracia
e autocracia, estão no ponto mais alto desde 1989.