A prova de Costa e Rio, os desafios de PCP e BE e a incerteza da governabilidade
24 de dez. de 2021, 15:20
— Lusa/AO Online
Com
o chumbo do Orçamento do Estado para 2022, abriu-se uma crise política e
o Presidente da República, Marcelo Rebelo de Sousa, decidiu dissolver o
parlamento e marcar eleições legislativas antecipadas para 30 de
janeiro do próximo ano, daqui a pouco mais de um mês. Sem
este percalço de calendário, as legislativas estavam previstas para
2023 e, por isso, os partidos políticos - e as lideranças - veem-se
obrigados ir a votos bem antes do planeado. O
executivo minoritário do PS liderado por António Costa, que desde 2019
governa sem acordos, tem nas eleições de 30 de janeiro um teste à sua
popularidade, numa disputa eleitoral em que é apontado por analistas e
opositores políticos algum desgaste aos socialistas, também por causa de
quase dois anos de pandemia de covid-19. Para
lá dos resultados de 30 de janeiro, a grande dúvida prende-se com os
cenários de governabilidade e de estabilidade política, já que a crise
que levou a estas eleições resultou precisamente do facto de não haver
uma maioria no parlamento com capacidade para aprovar o Orçamento do
Estado.Sobre o “dia seguinte” às eleições,
já muita tinta correu, mas as dúvidas permanecem, tendo no último fim
de semana o secretário-geral do PS e primeiro-ministro afirmado, em
Lisboa, que a “geringonça” criada em 2015 acabou em 2021, que agora a
maioria de esquerda é só com o PS e que a escolha nas próximas eleições é
entre ele e Rui Rio.Precisamente o líder
do PSD reeleito, a quase 300 quilómetros de distância, no congresso em
Santa Maria da Feira, defendeu o PS não pode fugir a esclarecer se
também estará disponível para negociar a viabilização de um governo
minoritário do PSD, pedindo a António Costa “humildade democrática” e
reciprocidade na disponibilidade manifestada pelos sociais-democratas.Os
avisos para os riscos do regresso de um bloco central ou para uma
maioria absoluta do PS têm vindo sobretudo de BE e PCP, os antigos
parceiros de Costa na "geringonça" que têm nas urnas uma difícil prova
depois do chumbo do orçamento. Com o
fracassar das negociações orçamentais à esquerda e desde que o documento
foi reprovado no parlamento, socialistas, bloquistas e comunistas
trocaram acusações e culpas sobre este desfecho, fazendo antever que o
tema regressará ao período eleitoral e dificultará futuros
entendimentos.Mas se à esquerda o desafio é
grande, à direita não é menor, com Rio confortado por um congresso
pacificado, mas à condição de um bom resultado eleitoral do PSD, e um
CDS-PP “afogado” numa crise interna e cujas sondagens apontam um mau
resultado.Depois da fragmentação das
últimas eleições legislativas e a entrada de três novos partidos no
parlamento, PSD e CDS-PP estão pressionados no seu espetro eleitoral
pelo crescimento da Iniciativa Liberal e do Chega, que apesar de terem
chegado ao parlamento apenas em 2019, tudo aponta para um aumento de
representação.O PAN, que nas últimas
legislativas passou de deputado único para grupo parlamentar e teve
mudanças de liderança, também tem um desafio nestas eleições, bem como o
Livre, que depois de ter ficado sem representação com a saída de
Joacine Katar Moreira joga com Rui Tavares a tentativa de eleição.