Autor: Rafael Dutra
A meras horas de começar as Festas do Senhor Santo Cristo dos Milagres 2025, ontem mais de duas dezenas de voluntários trabalhavam arduamente, no Convento de Nossa Senhora da Esperança, a preparar as flores que serão utilizadas na decoração do evento, mas também a finalizar outros detalhes cruciais para as festividades.
Apesar da extrema humidade sentida em Ponta Delgada, que condiciona quem trabalha, os voluntários inspiram-se nas muitas centenas de flores que os rodeiam, enquanto fortalecem a sua relação com Deus. É um acto, para muitos, que nada mais é devolver a gratidão que recebem com base na sua fé e relação com Santo Cristo.
No convento, é possível observar das mais variadas espécies e cores de flores, que são doadas, que incandescem este convento e tornam um dia muito nublado, num ambiente mais rico e colorido.
Ao Açoriano Oriental, Paulo Almeida, responsável pela decoração da Igreja, refere que, este ano, serão utilizados “tons claros e linhas direitas”, com um foco particular no branco, cor simbólica. “Vamos optar muito pelo branco também para simbolizar a paz, uma vez que o mundo está um pouco atribulado”, explana.
O florista, que já colabora com as Festas há cerca de duas décadas, salienta que é “sempre um gosto” poder colaborar, e que é também uma maneira de “dar graças a Deus”, porque recebeu “este dom de trabalhar com as flores”, frisou.
Paulo Moura, que assumiu a responsabilidade da ornamentação do coro baixo, explica que a decoração este ano foi inspirada numa parte do Jubileu da Esperança: as ondas do mar.
Isto porque, prossegue, a explicação que a Igreja dá à existência das ondas no símbolo do Jubileu da Esperança é que a vida é feita de altos e baixos.
“Então pensámos em fazer um
coro baixo que fosse a representação das próprias ondas e a
representação das nossas vidas”, afirmou, adiantando que as ondas irão
afastar-se em direção às paredes, “quase como se o Senhor abrisse os
caminhos no meio das tempestades e nos guiasse pelo melhor caminho para
nós seguirmos”, justificou.
Para além da importância do mar, será dada, novamente, importância à cor branca.
“Iremos utilizar no coro baixo muita cor branca quase como um apelo silencioso à paz, que é isso que todos os cristãos pretendem que haja no mundo. Independentemente da religião, das ideologias de cada um, acho que a promoção da paz deve ser algo universal, que todos os cristãos e todos os seres humanos devem pretender alcançar no futuro em tempos tão incertos como os de hoje em dia”, defendeu Paulo Moura, em declarações ao Açoriano Oriental.
Toda esta decoração é feita pelos voluntários, alguns que repetem este ato todos anos, mas alguns que o fazem pela primeira vez, como Elisabete Melo, que não é estranha a dar o seu contributo às Festas, uma vez que ajuda a vestir os anjinhos que vão na procissão.
No entanto, recebeu o convite para ajudar com as flores, que prontamente aceitou. “Estou aqui para dar o meu contributo no que eu puder fazer. Não sou florista, não tenho muito jeito para arranjos, mas o que me ensinaram a fazer, eu vou fazendo”, apontou.
Por seu lado, Estrela Neves, depois de ter cumprido o seu desejo em ajudar, no ano passado, voltou porque adorou a experiência e a oportunidade por se sentir mais aproximada e poder “conversar com Ele”.
Visivelmente emocionada, só de falar neste assunto, a açoriana natural de Santa Clara admite que enquanto puder irá sempre se voluntariar: “É a nossa dádiva e o agradecimento pelo bem que nos acontece”, realçou.
Para a também voluntária, Sandra Vieira, a sua vinda foi motivada com base numa vontade de “sentir mais de perto o Senhor” e “agradecer mais um ano de vida”.
Embora tenha decidido vir com uma amiga, que por ter sido operada, não pôde vir, Sandra Vieira diz que é com “imensa alegria” que veio colaborar com os restantes voluntários na preparação das Festas.
“Para mim o Santo Cristo é o meu primeiro devoto e protetor. Infelizmente fiquei doente no dia Dele, pedi a Ele mais dez anos de vida e o Senhor deu-me mais cinco além dos dez. É sinal que mereço, por isso tudo o que faço é por Ele”, assinalou.
Para fazer este trabalho, as voluntárias dependem das doações, que chegam consistentemente, quer de pessoas, grupos ou até instituições, sendo que segundo Paulo Almeida, há cada vez mais doações.
Carregando dois ramos de flores na mão e acompanhado
pela sua companheira, Vítor Melo relata que faz este tipo de doação há
cerca de cinco anos.
“Costumo doar porque tenho muita fé no Senhor Santo Cristo dos Milagres”, confessa.
Já Dina Raposo, que também deslocou-se ao Convento de Nossa Senhora da Esperança, pela primeira vez, para deixar flores, destaca que fê-lo por “vontade” e “gratidão”, e que também espera que o seu contributo torne este dia mais bonito.
Por sua vez, Margarida Rocha, que vem há quatro anos, conta que gosta de oferecer flores e que este tipo de oferta é algo que efetua “a qualquer pessoa”.
Nesse sentido, sublinha que, de
modo geral, é uma oferta que para si é “um símbolo de amizade”, que
neste caso representa a sua ligação com Cristo.
2025 será um ano especial para os anjinhos açorianos
Este ano irão participar 43 ‘anjinhos’ na procissão de domingo das Festas do Senhor Santo Cristo dos Milagres que percorre as ruas da cidade. Porém, este ano há algo que nunca aconteceu, isto porque, pela primeira vez, o cortejo contará com a anjinho que é menino.
Quem o indica é Odália Silva, que este ano está responsável pelos anjinhos, e que tem estado a gerir este processo “desde fevereiro”, momento em que começou a contactar as mães destas crianças acerca da sua participação na procissão.
Embora haja muitas crianças que estão a repetir a participação no cortejo, existem, de igual modo, “novas crianças, de várias freguesias”, informa.
Muitos dos trajes que irão vestir já são antigos, mas há outros novos “que foram feitos e outros que foram doados”, continua Odália Silva, acrescentando que os objetos característicos que os anjinhos levam são da própria Igreja.
Levam consigo os próprios símbolos do Senhor Santo Cristo: “o dado, o cetro, a capinha, a veste, a acorda”, por exemplo, enumera a responsável.
Este ano, há uma novidade, porque um menino irá vestido de anjo. A sua irmã também vai, e depois do mesmo questionar se também podia ir, foi prontamente aceite. “Acho que não temos de distinguir meninos de meninas, os anjos também são rapazes”, assegurou Odália.
Embora seja comum serem os mais pequenos a vestirem-se de anjinhos, este ano variam entre os quatro e os 17 anos. Não obstante, nem todos terão asas, porque o número é insuficiente para acomodar todos.