"A
normalidade, pela qual tanto ansiamos, não é um lugar já conhecido a
que se volta, mas uma construção nova onde nos temos de empenhar. Por
distópica que possa ser, a pandemia empurra-nos para o futuro", disse o
também poeta, teólogo e professor universitário, que discursava na
cerimónia em que foi galardoado com a edição deste ano do Prémio
Universidade de Coimbra.Para o cardeal, a
crise pandémica veio reforçar a relevância do conhecimento, tornando
mais clara que "as sociedades do futuro terão de potenciar sempre mais a
importância e a centralidade do conhecimento"."O
futuro não dispensa esses laboratórios de procura, criatividade,
pensamento e inovação que as universidades constituem", notou.Na
sua perspetiva, a pandemia veio também tornar mais relevante a
necessidade das sociedades de se centrarem em torno da ideia de bem
comum."A acentuação do individualismo
conduziu a uma dramática fragmentação da experiência social. O ‘salve-se
quem puder' ou o ‘todos contra todos', como insistentemente tem
repetido o papa Francisco, não são estratégias de futuro", realçou,
considerando que servir o bem comum deve tornar-se um objetivo
mobilizador da sociedade.Durante o seu
discurso, Tolentino de Mendonça vincou ainda a necessidade de uma
sociedade que consiga redescobrir a contemplação, em contraponto com os
"ditames da produtividade, do controle utilitarista, do imediatismo"."A
redescoberta da contemplação pode ser precisamente isso: uma nova
consciência sistémica, compreendendo a interconexão existente entre a
vida humana e a vida do planeta, que é a nossa casa comum", referiu o
cardeal, que falava na cerimónia do 731.º aniversário da Universidade de
Coimbra, que decorreu inteiramente por via digital.