s
meia de Rock
A música açoriana tem um novo nome a recordar: Carmen Raposo

Carmen Raposo Por enquanto, é incontornável referir que é filha de Aníbal Raposo, porque é um facto relevante. Mas as suas primeiras canções originais já mostram que tem tudo para vir a escrever a sua própria página na música açoriana por direito próprio.


Autor: João Cordeiro

Nasceste e cresceste num período de grande atividade e criatividade de nomes incontornáveis da música açoriana de autor. Um destes músicos de referência é o teu pai, Aníbal Raposo. Que memórias guardas deste tempo e que influência têm na tua música?

É verdade. Ainda não era nascida quando o meu pai regressou aos Açores em 1978, fundando, juntamente com outros músicos, como o Luís Alberto Bettencourt e o Zeca Medeiros, vários grupos inspirados no cancioneiro das ilhas e que até hoje são uma referência no panorama musical açoriano, como os Construção, Rimanço, Albatroz e Ala Bote. Tinha precisamente um ano de idade quando os Rimanço alcançaram o segundo lugar com o tema “Vapor da Madrugada” no Festival da Canção da RTP. Portanto, ouvir música açoriana sempre foi muito natural para mim, pois ouvia-a por todo lado: em casa, nas viagens de carro, nos concertos a que assistia. Ao longo do tempo, fui naturalmente ganhando consciência da riqueza deste património e gosto pessoal por ele. Os álbuns “7 anos de música” (1992) e “25 anos de música original dos Açores” (2010) são duas grandes referências para mim. Não sei as letras das músicas todas de cor, mas posso garantir que sei as melodias! Adoro-as. Além das músicas do meu pai, claro. Ele sempre gostou de partilhar comigo e com a minha irmã as suas músicas e ainda hoje pede-nos opinião, o que me deixa muito feliz.

Ao longo da minha adolescência e vida adulta ouvi e ouço música muito diversa. Também cresci ao som da música clássica, do jazz, do rock, da música portuguesa, brasileira, por aí fora… Felizmente, sempre de qualidade. Penso que a minha música reflete esse ecletismo, pelo que tenho muita dificuldade em defini-la. Mas acho que é óbvia a influência matriz, a música tradicional e popular açoriana e portuguesa.

As tuas três primeiras canções originais, disponíveis online, refletem esta influência e têm referências que parecem tão açorianas, como o tempo, a saudade, o clima, e até um assunto tão atual como o facto de vivermos sempre na iminência de um tremor de terra. Como é que foi o percurso destas canções até chegarem ao público?

Comecei a compor este conjunto de canções que estou a gravar na primavera de 2021. (...) Na verdade, tomei consciência há bem pouco tempo que, desde que regressei de Lisboa, estou a querer estar ligada à música e a tentar perceber onde me encaixo e sou mais feliz. Sempre me “caíram” melodias na cabeça, mas quando saí do Conservatório, afastei-me abruptamente do piano. O meu regresso a ele em 2021, deu-se de uma forma muito natural, pois era a maneira que tinha de poder exteriorizar as minhas músicas. E então elas foram saindo de forma espontânea. Não tinha em mente iniciar um projeto a solo, muito menos gravá-lo. Mas à medida que fui compondo e fui mostrando as músicas à minha família e amigos mais próximos, fui recebendo um feedback positivo, o que me incentivou a tentar fazer mais e melhor. No final do verão, como já tinha alguns temas, decidi começar a gravá-los com a ajuda do Mário Raposo, um músico e produtor excecional, que tem sido responsável por toda a orquestração e produção deste projeto. Tenho contado também com a participação de alguns músicos como a Ana Cláudia, o Raul Damásio, o Álvaro Pimentel, o Paulo Andrade e o meu pai. Como referiste, lancei três temas até ao momento: O “Abalo”, “A Espera” e o “Ensaio sobre o Tempo” e os mesmos têm de facto referências a aspetos da nossa “açorianidade”. Estes aspetos fazem parte da minha – da nossa – realidade, pelo que me ajudam a enquadrar as histórias que conto nas minhas músicas, utilizando muitas vezes metáforas. É um projeto autobiográfico, mas bastante aberto ao mesmo tempo.

Além das referências açorianas de que já aqui falamos, que outros artistas prendem a tua atenção?

Gosto de acompanhar o que se vai fazendo por cá, não só por parte da geração de cantautores de que já falámos, mas também da nova geração. Penso que temos artistas a solo e projetos musicais com muita qualidade na nossa região e que merecem toda a nossa atenção. Custa-me falar em nomes, pois são de facto muitos! Não gosto de deixar ninguém de fora. A nível do continente, também acompanho diversos artistas já com cartas dadas, mas tenho estado também atenta a novos lançamentos, como Rita Vian, A garota não, Bruno Pernadas, Luís Severo, Valter Lobo, Filho da Mãe, etc. A nível internacional, se só pudesse eleger um artista, seria o Benjamin Clementine, que me deixou em lágrimas no nosso Teatro Micaelense, perante a dimensão invulgar do seu talento.

Percebi pelas tuas redes sociais que estás a compor novos temas. Qual é o percurso que estás a preparar para os próximos tempos?

Sim, já estou a trabalhar em novos temas, mas não posso dizer que tenha um plano muito definido. Iniciei este projeto apenas com o objetivo de me divertir. Tudo o que vier a partir daí, virá por acréscimo. Tenho mais algumas músicas já criadas, mas não sei ainda se elas irão dar origem a um EP ou a um CD digital. Dependerá do resultado das gravações e da composição de novos temas. Infelizmente gostaria de ter mais tempo para dedicar à música. Aguardo ansiosamente o verão para me poder dedicar totalmente!

Quando é que te vamos poder ver ao vivo?

Espero que brevemente. Neste momento ainda estou numa fase de produção musical e de gravação. Quando sentir que já tenho um conjunto alargado e consolidado de músicas, aí sim, pensarei em concertos. Ainda não tenho banda, mas já tenho os elementos em mente. Eles é que ainda não sabem! Quero dar um passo de cada vez, sem pressas, pois o objetivo é mesmo o de gozar o processo e ser feliz a fazer música.