A "magnitude" da crise alimentar "agravou-se" em Moçambique em 2023
24 de abr. de 2024, 12:28
— Lusa/AO Online
Três
milhões e trezenas mil pessoas, ou 20% da população analisada em 72 dos
156 distritos de Moçambique, “enfrentaram altos níveis de insegurança
alimentar aguda”, de acordo com o relatório elaborado por uma rede de 16
agências, entre as quais a Organização das Nações Unidas para
Alimentação e Agricultura (FAO), o Programa Alimentar Mundial (PAM) das
Nações Unidas e a União Europeia.“A
situação deteriorou-se em comparação com o período de escassez de
2022/23; a percentagem da população que enfrenta altos níveis de
insegurança alimentar aguda nos distritos classificados em ‘Crise’
(Nível 3 na classificação da FAO para a segurança alimentar (IPC, na
sigla em inglês)) aumentou de 23 para 50 por cento”, sublinha o
relatório. “Dois distritos recentemente
analisados em Cabo Delgado foram classificados em Emergência (IPC, Nível
4)”, acrescenta o relatório, sublinhando que 200 mil pessoas atingiram
esta fase de insegurança alimentar no país em 2023.A
escassez de oportunidades de emprego em áreas afectadas por choques
climáticos e conflitos reduziu o poder de compra das famílias,
diminuindo o consumo. A inflação alimentar anual atingiu 18,3% em março e
desceu para 3,2% no final de outubro, antes de subir novamente para
9,1% no final do ano (PAM, dezembro de 2023).Apesar
de uma redução do conflito em Cabo Delgado, ataques esporádicos
perturbaram os sistemas alimentares locais na província em 2023,
sobretudo a partir de dezembro, em que “a insegurança se deteriorou
acentuadamente”, aponta o relatório.Mais
de 700 mil pessoas ainda estavam deslocadas em outubro de 2023, enquanto
outras 600 mil tinham regressado a zonas seguras, “mas sem meios para
reiniciar as suas atividades de subsistência”, refere o estudo,
servindo-se dos números da Organização Internacional para as Migrações
(OIM). Em fevereiro de 2023, as inundações
no sul de Moçambique foram seguidas de perto por duas passagens do
ciclone tropical Freddy por oito províncias do país, pelo que o estudo
aponta para as estimativas da FAO, segundo as quais 4% do total das
terras cultivadas, em grande parte concentradas nas províncias do centro
e do sul, foram afetadas pelas cheias. “Os
ventos fortes e as inundações generalizadas provocaram deslocações e
danos consideráveis em infraestruturas, culturas e gado, reduzindo as
reservas alimentares e o acesso a oportunidades de geração de
rendimentos, especialmente na província da Zambézia”, sublinha o texto.As
passagens do Freddy aceleraram ainda a propagação do surto de cólera,
que começou em setembro de 2022, mas, entre fevereiro e finais de abril
de 2023, aumentou dez vezes em termos de casos, que atingiram um total
de 28.000 no último mês referido. Em
2024, o relatório prevê que a precipitação abaixo da média em novembro
de 2023, as temperaturas elevadas e a probabilidade de uma estação
chuvosa fraca devido ao El Niño “reduzam a produção agrícola e
contribuam para o aumento dos preços dos alimentos”. A
inflação alimentar anual atingiu 18,3% em março de 2023 e desceu para
3,2% no final de outubro, antes de subir novamente para 9,1% no final do
ano, de acordo com o PAM.