Tudo
começou nas obras... de construção civil, onde Manuel Gregório
trabalhou antes de cumprir serviço militar - natural da Graciosa,
vive na ilha Terceira desde os 12 anos de idade.
Depois
da tropa, andou uma mão cheia de anos na Biblioteca de Angra do
Heroísmo. Só depois disso, começou a exercer funções no Museu,
na qualidade de guarda.
Passada
mais de uma vintena de anos, alcançou a posição de técnico
auxiliar de Museografia, tendo como incumbência a inventariação
das obras de arte.
Face
à sua habilidade manual - dom que vem da parte paternal -, foi
convidado a frequentar uma acção de formação profissional,
durante seis meses em 1977, na Fundação Ricardo Espírito Santo.
Ganhava,
então, equiparação profissional a Técnico de Restauro e
Conservação, passando a trabalhar no Centro de Estudo, Conservação
e Restauro dos Açores.
No
Centro de Restauro, do qual se aposentou em setembro de 2002, Manuel
Gregório ocupava boa parte do tempo a recuperar peças de arte
sacra.
Lembra-se
que, em 1989, recuperou o primeiro altar - o da Igreja dos Altares,
na ilha Terceira.
A
partir daí foi um nunca mais parar em intervenções nas igrejas
espalhadas por várias ilhas do arquipélago, sobretudo na
recuperação de altares, imagens de arte sacra e talhas.
Manuel
Gregório acentua que muitas destas peças chegam às suas mãos em
péssimo estado de conservação, derivado de problemas com a
humidade e chuvas.
O
seu trabalho desenvolve-se por etapas minuciosas. Por exemplo, no
caso da recuperação de um altar, tudo começa pela acção de
limpeza. Seguem-se a colagem de talha solta, preenchimento de todas
as lacunas, doiramento das talhas e pintura das partes baixas. Chega
depois a altura da bordagem com folha de oiro (o recorte é feito
através de tinta própria) para que se conclua a tarefa de restauro.
Coleção de
cerâmica
"O
amor é o verdadeiro motor da vida". Com 74 anos de idade,
Manuel Gregório fundamenta-se no sentimento mais intenso para
justificar o empenho na profissão.
"Às
vezes prefiro cobrar menos no restauro de uma peça, para que depois
as pessoas passam a olhar com outros olhos para o meu trabalho"
- acentua o Técnico de Restauro e Conservação, apostado em deixar
"marca pessoal".
Na
reconstituição de cada peça de arte, gosta de ver projectados o
amor e amizade. "A minha vida tinha de ser esta. Dá-me imenso
prazer ver os fiéis a comentar o embelezamento da sua igreja" -
sublinha Manuel Gregório, que também encontra terreno fértil para
paixões fortes nas porcelanas e loiças.
De
resto, na área de cerâmica é o único técnico existente nos
Açores. "A área da de cerâmica é muito complicada de
trabalhar, além de ser menos rentável, em termos económicos, do
que a pintura e escultura".
Recebe
solicitações de todas as ilhas e do continente. As peças surgem na
sua oficina (situada na Rua Frei Diogo das Chagas, nº 60-A, em Angra
do Heroísmo) com sinais de profunda deterioração, decorrentes, em
muitos casos, do sismo de 1980.
As
pessoas acabam por desconhecer a existência de "autênticos
tesouros" nas suas casas, optando por utilizar valiosas peças
de cerâmica como bebedouros para galinhas ou vasos de plantas, sem
falar das situações em que “pura e simplesmente atiram para a
ribeira”.
Como
contraponto ao desleixo, Manuel Gregório orgulha-se de possuir a
maior colecção de cerâmica na ilha Terceira.
O
pontapé de saída foi dado com a aquisição de 80 peças. Hoje são
mais de 1600, sem que haja uma única repetida.
A
cerâmica, cuja actividade se findou na ilha em 1975, ganha forma de
objectos de uso corrente como pratos, travessas, sopeiras, terrinas,
potes e boiões. As cores padrão da produção cerâmica terceirense
baseavam-se no branco e azul.
As
peças, em norma, reproduziam imagens que serviam de homenagens a
atividades, monumentos e festas. Até os bêbados não foram
esquecidos.
O
gosto de colecionar acompanha Manuel Gregório desde sempre.
“Na
minha casa, tenho mais de mil garrafas clássicas, além de moedas e
relógios de bolso. Se encontro um parafuso na rua, acabo por o
trazer comigo”, concretiza.