Autor: Ao online
Zezé Silva divide o seu tempo entre o trabalho no hotel, as paróquias de Agualva e Fontinhas na Terceira e as muitas touradas à corda que acontecem diariamente de maio a outubro na ilha.
É um dos 7 filhos de uma família humilde e foi, desde cedo, um jovem envolvido na comunidade.
Começou quando tinha 13 anos. Um novo padre natural da freguesia (Júlio Rocha) tinha lançado o convite para que José integrasse o grupo de acólitos da paróquia. Logo depois integrou também o grupo de jovens de Nossa Senhora do Guadalupe. E intensificou-se o seu percurso em Igreja.
Em contexto de paróquia Zezé “É um jovem com uma vontade enorme de viver e viver feliz. É um membro muito ativo, não só a nível do grupo de jovens bem como a nível da liturgia. Disponível e com muito sentido responsabilidade. A vida de estudante, o trabalho de estágio nunca impediram de se empenhar na vida da paróquia”, afirma o pároco Moisés Rocha que adianta ainda que o acólito “Tem grande sentido de responsabilidade, o sentido dos outros, o bom senso, a alegria , a disponibilidade para servir e a sua humildade, não só derivado do contexto familiar mas por uma postura que por si mesmo cultiva. O sentido de responsabilidade e a sua abertura com os outros fazem do José um elemento essencial no grupo dos acólitos.”
Já Liliana Feliciano é responsável pelo grupo de jovens que Zezé integra e define-o como um jovem calmo e que se mostra sempre disponível para colaborar em tudo o que lhe é solicitado.
Mas, se a calma da espiritualidade impera nas funções de acólito ao domingo de manhã, ela é imediatamente contrastada com a grande paixão de Zezé à tarde: chamar toiros. E não, não é do palanque. É que a expressão “chamar toiros” é popularmente utilizada para o ato de fazer um passe ao toiro em contexto de tourada à corda.
Começou em 2015 e já é um dos jovens promissores capinhas da ilha Terceira. Que o diga Fábio Magalhães, seu “tutor” na arte de chamar toiros: “É muito jovem, tem muito talento e muito para aprender e progredir. É essencial que mantenha a humildade e o respeito ao animal. É que há uma altura em que ganhamos confiança a mais e é essa a fase mais perigosa desta carreira”.
Em conversa com o Açoriano Oriental Zezé lembrou o momento em que percebeu que esta era a sua maior paixão: “Começou numa brincadeira no ganadeiro Francisco Juliano quando o neto me desafiou a ir tratar dos toiros. Comecei a fazê-lo com regularidade e a perder o medo que tinha dos animais. Era ainda 2014. O primeiro passe aconteceu em Santa Luzia, na Praia da Vitória, com um toiro puro da Casa Agrícola José Albino Fernandes mas tem a certeza de que já chamou toiros na ilha inteira. Garante que apesar de ter o seu “partido” (expressão usada para identificar a ganadaria favorita) dá o seu melhor em todas as touradas a que consegue ir.
O
jovem terceirense diz que para que tudo corra bem é essencial confiar e
conversar antecipadamente com os pastores que manobram o touro com a corda.
Zezé contou, também, os momentos menos bons enquanto capinha: “Numa tourada na
minha freguesia caí e esfolei um braço. Na Praia da Vitória caí de um muro e
parti um pulso e em 2017 fui pegado na freguesia da Feteira”. É preciso frisar
que nesta arte não há proteções nem defesas, o capinha enfrenta o touro de
igual para igual e onde a destreza do homem é decisiva.
O capinha diz achar muito engraçado quando está numa tourada e alguém lhe diz: “Eu conheço a tua cara não sei de onde”, ao que José responde de sorriso rasgado: “É da missa!”
Fora da ilha já chamou toiros no Pico, em São Jorge, na Graciosa, em Santa Maria e ao Canadá.
Depois de terminar o curso de
restauração na Escola Profissional da Praia da Vitória Zezé conseguiu emprego
imediato no Terceira Mar Hotel, o que lhe deixou menos tempo livre para a sua
grande paixão que tem agora (literalmente) tatuada na pele.