Autor: Lusa/Açoriano Oriental
A ideia foi defendida pela realizadora Maria Schrader e pelo argumentista Jan Schomburg, que coescreveu o filme sobre os anos de exílio do escritor judeu austríaco, durante o nazismo na Europa, “Stefan Zweig – Adeus, Europa”, cuja antestreia se realiza hoje, em Lisboa, e que tem estreia nacional marcada para 23 de fevereiro.
O visionarismo do escritor austríaco é patente não apenas na previsão que fez do declínio europeu, mas também na crença que tinha de que num futuro algo longínquo a Europa seria um espaço de circulação livre.
“Acredito que um dia passaportes e fronteiras se extinguirão, mas duvido que estaremos vivos para assistir a isso”, afirma numa das cenas a personagem de Stefan Zweig, interpretada por Josef Hader.
Em entrevista à agência Lusa, Maria Schrader conta que começou o projeto para o filme em 2011 e que obviamente pensou na “questão de como reagir a uma mudança de radicalismo, a questão de qual a posição da arte, qual a posição da literatura num fascismo, ou ditadura, ou radicalismo político”, como aconteceu com o escritor que teve de fugir depois de ver os seus livros serem proibidos.
A realizadora Maria Schrader confessa que, na altura, nunca imaginou que, cinco anos depois, iria assistir a este grande movimento de pessoas a fugir das suas casas, desta vez não da Europa para outros países, mas a fugir para a Europa, assim como não poderia pensar numa Europa a fechar-se outra vez.
“Alcançámos uma Europa unida e pacifica e agora parece que talvez não a tenhamos por muito mais tempo, e talvez até por menos tempo do que pensamos. É o que pode acontecer, sim”, afirmou.
Dando como exemplo a possibilidade de reeleição de Angela Merkel, a possível eleição de Le Pen, em França, ou a eleição de Donald Trump, nos Estados Unidos, que “nunca ninguém pensou que fosse eleito”, é inevitável o paralelismo com a Europa do filme, mas também “difícil, porque é distorcido”.
“Nós vivemos a utopia de Stefan Zweig, ele não a viveu. Ainda a vivemos”, afirmou, sublinhando, contudo, que já se estão a perder muitas das conquistas.
A abolição das fronteiras e dos passaportes, sonhada por Sefan Zweig, já não existe totalmente, afirma a realizadora, exemplificando que, “se viajarmos para a Dinamarca, agora os comboios param outra vez, há barreiras”.
“Não há fronteiras completamente abertas, nem mesmo para nós. É até muito mais brutal. É o mesmo que antes da UE, o comboio pára nas fronteiras, a polícia entra nos comboios mas não pedem passaporte a toda a gente, só pedem a pessoas com diferenças étnicas, de cor escura ou obviamente sem o aspeto claro do Norte da Europa e isso é ainda mais terrível do que antigamente”.
Para Maria Schrader, a questão crucial é que “partilhámos a Historia da Segunda Guerra Mundial, da sua completa destruição, da reconstrução, da queda do muro, da união da Europa e agora estamos a desistir outra vez”.
Para Jan Schomburg, o mais lamentável é que a humanidade parece não aprender com os erros histórios: “Os séculos passados mostraram os que os nacionalismos fazem e não podemos esquecer que estes anos de União Europeia foram os mais pacíficos e deveríamos lutar por isso e mantermo-nos unidos”.