Açoriano Oriental
Trump abre nova fase da política mundial
Especialistas em relações internacionais concordaram em Lisboa que a posse de Donald Trump marca o começo de um novo mundo, de contornos difíceis de antecipar e com incógnitas como o futuro do multilateralismo nascido do pós-guerra.
Trump abre nova fase da política mundial

Autor: Lusa/Açoriano Oriental

“É o primeiro presidente dos Estados Unidos a pôr em causa a integração europeia”, exemplificou o investigador Carlos Gaspar, um dos intervenientes na conferência “Trump Day”, que decorre na Faculdade de Direito da Universidade de Lisboa.

Gaspar referia-se a declarações do presidente eleito dos Estados Unidos, que hoje toma posse, caracterizando a União Europeia como um mero instrumento de dominação da Alemanha, e frisou que a integração europeia tal como ela é foi uma criação dos Estados Unidos após a II Guerra Mundial.

“A NATO é obsoleta, a UE instrumentalizada, da ONU nem fala… Um novo mundo de relações entre pares”, referiu, aludindo a afirmações de Donald Trump.

O investigador do IPRI (Instituto Português de Relações Internacionais) defendeu na sua intervenção que, apesar das muitas declarações questionando a política externa norte-americana das últimas décadas, Trump não vai conseguir mudá-la porque lhe falta experiência e capacidade.

“Trump não vai conseguir mudar a política em relação à Rússia porque não é um presidente [Harry] Truman […] ou a política em relação à China porque não é um [Richard] Nixon”, disse.

“Trump não tem uma carreira política ou de serviço público. Todos os outros presidentes antes dele ou eram políticos ou generais. Trump é virgem, só faz política há dois anos, desde que lançou a candidatura, não tem a menor experiência diplomática e conhece muito mal os Estados Unidos”, afirmou.

Outros intervenientes, como o embaixador Francisco Seixas da Costa, consideraram que o novo presidente norte-americano abre, com as dúvidas que suscita, uma era de imprevisibilidade, a qual, partindo daquela que é “a potência decisiva” do mundo atual, “induz fatores de insegurança” à escala global.

Seixas da Costa também destacou, entre as incógnitas que se colocam, o futuro do multilateralismo, dado o “discurso de desprezo pelo multilateralismo” de Donald Trump que não pode deixar de se traduzir num “abalo da confiança”.

O antigo embaixador acredita, contudo, no funcionamento do sistema político dos Estados Unidos.

“Se Trump for um descalabro em termos de afirmação dos EUA à escala global, isso vai ter desde logo reflexos no Congresso”, sempre que colida com os interesses dos Estados Unidos.

“Daqui a dois anos vamos ter uma primeira avaliação” política da primeira metade do mandato, considerou.

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