Testar semana de quatro dias no SNS "teria muito interesse"
21 de set. de 2024, 15:00
— Lusa/AO Online
"Os
problemas do SNS são problemas que a semana de quatro dias pode
resolver”, nomeadamente no que toca ao absentismo e à insatisfação dos
trabalhadores do setor público pela elevada carga laboral, afirmou Pedro
Gomes, que esteve a ser ouvido na comissão de Trabalho, Segurança
Social e Inclusão, na Assembleia da República, para apresentação das
conclusões do relatório final sobre o projeto-piloto da Semana de quatro
dias, na sequência de um requerimento do Bloco de Esquerda (BE) e do
Livre.O responsável admitiu que para "um
hospital passar à semana de quatro dias, com esta visão de reorganização
do trabalho" [...] "seria necessário contratar mais trabalhadores" e
adotar inteligência artificial. A posição
foi também defendida por Rita Fontinha, que ainda assim prefere que a
experiência arranque pelos centros de saúde. Segundo a investigadora e
também coordenadora do estudo houve "muitos" centros de saúde que
chegaram a contactá-los para participar no projeto-piloto da semana de
quatro dias. Para já, os coordenadores do
projeto-piloto consideram "cedo" para fazer alterações na legislação
laboral para incorporar esta possibilidade, defendendo que se deve
continuar a testar em diferentes setores. E antecipam que possa chegar à
Administração Pública. "O que sabemos é que começaram a avançar na
preparação", disse Pedro Gomes, sublinhando "que é uma possibilidade",
se houver o aval do novo Governo. Pedro
Gomes defendeu ainda que, na semana de quatro dias a “redução do tempo
de trabalho é essencial”, mas, por outro lado, tem que haver “uma
reorganização do trabalho”, dado que é isso que “dá viabilidade
económica” à medida. O coordenador do projeto-piloto aponta que “há
outras formas de reduzir o tempo de trabalho”, nomeadamente a
implementação das 35 horas semanais para todos os setores ou mais dias
de férias, mas a ideia da “semana de quatro dias é concentrar essa
redução em mais dias livres que são regulares”, o que não acontece com
os exemplos mencionados. Em causa está uma
modalidade de trabalho em que há lugar à redução do horário semanal de
trabalho, sem que haja redução do salário e que foi aplicada na prática,
ao longo de seis meses em Portugal por 41 empresas (das quais 21
empresas a coordenarem o começo do teste através do projeto-piloto em
junho de 2023).“A vantagem do piloto foi
dar às empresas um quadro branco para encontrarem uma solução”, tendo em
conta estas “duas dimensões", notou o professor de Economia, referindo
que nos últimos 30 anos houve “mudanças estruturais” na economia,
nomeadamente ao nível da tecnologia ou a nível demográfico, mas ainda
assim “continuamos a trabalhar da mesma forma”. Já
Rita Fontinha realçou que “a mudança organizacional é difícil e as
pessoas tendem a ser resistentes” às mesmas, mas sublinhou que
“diferentes modelos de coordenação podem coexistir dentro da mesma
empresa”. A também professora associada de
Gestão Estratégica de Recursos Humanos na Henley Business School
destacou ainda que o desempenho dos trabalhadores era uma das principais
preocupações e notou que mais de 80% das empresas registaram um aumento
das receitas e 70% viram os lucros aumentar. Por
outro lado, houve avanços “muito significativos” a nível da saúde
mental e foi observado que “as mulheres valorizam muito mais do que os
homens” a semana de quatro dias, assim como “as pessoas com filhos ou
enteados” e as “pessoas que auferem menos de mil euros”.