Açoriano Oriental
Taxa dos sacos pode "ameaçar" reciclagem
Maria Barros confessa, à porta de um supermercado de Loures, que está a fazer menos reciclagem do seu lixo, desde que, há três meses, os sacos de plástico leves passaram a custar 10 cêntimos.

Autor: LUSA/AO Online

“Anteriormente fazia a reciclagem logo separada em sacos do supermercado em casa e depois era só pôr nos contentores. Agora faço num saco único, dos que se compra para o lixo e, muitas vezes, não me apetece sujar as mãos para separá-lo”, afirmou à agência Lusa. O caso de Maria Barros ilustra o receio da Sociedade Ponto Verde (SPV) de que os portugueses venham a fazer, no futuro, menos reciclagem. “Dados conclusivos” sobre o aumento ou quebra no material recolhido para a reciclagem ainda não existem, mas já se detetam mudanças no comportamento das pessoas, segundo disse à agência Lusa o diretor-geral da SPV, Luís Veiga Martins, empresa que gere o sistema integrado de recolha, tratamento e reciclagem dos resíduos de embalagem em Portugal. “A principal preocupação da SPV em relação a esta medida é a de garantir que a população não deixe de separar os seus resíduos de embalagem, visto que, antes da sua entrada em vigor, a separação dos resíduos nos lares era feita, em muitos casos, com recurso aos sacos de plástico leves com asas que eram oferecidos no decorrer das compras”, referiu. A diferença que Luís Veiga Martins nota, como “cidadão comum”, é “uma maior utilização de sacos reutilizáveis”. E foi isso que a Lusa testemunhou em dois supermercados na área de Lisboa, onde os consumidores se vão adaptando e usam mais sacos reutilizáveis em vez dos sacos leves que, desde 15 de fevereiro custam 10 cêntimos. “Não compro sacos de plástico. No início comprei quatro sacos de 50 cêntimos e agora ando com eles no carro e mais duas bolsas/sacos na mala de mão”, afirmou à Lusa Maria Barros, à porta do Continente de Loures. Semelhante resposta foi dada por outros clientes do mesmo supermercado e do Lidl de Alvalade, que asseguraram trazer os seus próprios sacos de casa. “Antes da introdução da taxa já levava os sacos de casa porque davam mais jeito para guardar as compras”, admitiu Liliana Santos. Contactada pela Lusa, a Associação Portuguesa de Empresas de Distribuição (APED) confirmou que os consumidores portugueses adaptaram-se rapidamente à nova realidade, fazendo um “balanço extremamente positivo” da medida. A Sociedade Ponto Verde alerta para a existência de alternativas na separação e encaminhamento dos resíduos para o ecoponto, como ecobags ou sacos reutilizáveis. “Esta taxa não deverá ser um obstáculo para que as pessoas separem os seus resíduos e para que o esforço feito até à data seja posto em causa”, acrescentou Luís Veiga Martins. No ano passado, a SPV encaminhou para reciclagem 419 mil toneladas de embalagens recuperadas no fluxo urbano, o que representa um aumento de 9% face a 2013. A introdução de uma taxa sobre os sacos de plástico está incluída na Reforma da Fiscalidade Verde, um conjunto de medidas que integram o Orçamento do Estado para 2015, concretizada pelo Ministério do Ambiente, Ordenamento do Território e Energia. O objetivo é reduzir o consumo de sacos de plástico por habitante e a quantidade de plástico deteriorado, que pode permanecer mais de 300 anos na natureza. Portugal é dos países europeus onde mais se utilizam estes sacos e apenas uma vez, segundo a Agência Portuguesa do Ambiente. As estatísticas do Eurobarómetro, divulgadas em 2010, indicam que cada português consome, em média, 466 sacos de plástico leves anualmente. O governo tenciona baixar este número para 50 sacos ‘per capita’ em 2015 e 35 no próximo ano, seguindo o exemplo de vários países europeus e as recomendações da Comissão Europeia.

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