Açoriano Oriental
Serviços portugueses não estão preparados para responder a aumento de casos
Os serviços de saúde portugueses não estão preparados para responder ao aumento dos casos de cancro que, segundo a Organização Mundial de Saúde, duplicarão nas próximas duas décadas, alertou hoje o presidente do Colégio de Oncologia da Ordem dos Médicos

Autor: lusa
Jorge Espírito Santo comentava à Lusa um relatório da Agência Internacional de Pesquisa sobre o Cancro, segundo o qual em 2030 vão registar-se cerca de 21,4 milhões de novos casos de cancro por ano e registar-se-ão 13,2 milhões de mortes, por comparação com os 12,7 milhões de novos casos e 7,6 milhões de vítimas mortais de 2008.

“O sistema de saúde pode ter, efetivamente, a sua sustentabilidade em causa se as medidas corretas não forem tomadas rapidamente”, disse.

O oncologista adiantou que os dados agora divulgados confirmam uma previsão anterior da OMS: “Nós já trabalhamos em Portugal nessa perspetiva e na Carta de Princípios de Coimbra [divulgada em fevereiro de 2009] já incorporámos essa situação a contar com este cenário”.

Nessa carta, os oncologistas denunciavam o “desperdício e ineficiência” na utilização dos recursos empregues na luta contra o cancro e propunham uma “reforma na prática” da oncologia em Portugal.

“Também alertámos para a impreparação dos serviços de saúde portugueses para lidar com esse aumento” do número de casos, salientou.

“Os serviços têm de ser preparados para essa ocorrência e depois tentar, conforme possível, intervir a montante no sentido de prevenir e detetar precocemente a doença”, disse.

Isso deverá ser feito através dos programas, que já deveriam estar em curso, de controlo do tabagismo e da obesidade e de educação para a saúde e através da aplicação dos programas de rastreio o “mais rapidamente possível”, acrescentou.

Para responder a todos os casos, é necessário que “os serviços se organizem e que tenham recursos humanos, meios técnicos e, sobretudo, meios financeiros adequados”.

Dezasseis meses depois de os oncologistas terem alertado para a situação, Jorge Espírito Santo afirmou que o “impacto prático” desse alerta ainda não foi o desejado, apesar de já terem sido registados alguns avanços, como a criação, pelo Governo, do documento “Requisitos para a Prática da Oncologia”, em fase de elaboração final.

“Mas isso só não chega. É preciso incluir os profissionais de saúde e os doentes no planeamento e na aplicação concreta das medidas que forem decididas”, argumentou.

O responsável alertou ainda que, se “a situação não mudar nada, será funesto não só para o sistema de saúde, mas sobretudo para os doentes que vão necessitar de tratamento”.

“Mas como certamente isso não irá acontecer, vamos conseguir ir arranjando um esquema adequado para que se possa incluir e absorver todos aqueles que necessitarem desses serviços”, disse.

Os profissionais estão “completamente disponíveis para colaborar e os doentes também estão neste momento com um grau de consciencialização e com capacidade de intervir e com uma perspetiva de colaboração”.

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