“Ser católico não está fora de moda (…) somos uma só igreja reunida, com jovens que estavam à procura de si”
5 de ago. de 2023, 14:59
— Tatiana Ourique / Açoriano Oriental
Açoriano
Oriental - É enfermeira e professora de geografia. Lida com jovens diariamente.
É lugar-comum dizer-se que têm falta de compromisso em todos os contextos.
Concorda?
Ana
Margarida Marcos - Na verdade, antes de aqui chegar (JMJ) talvez
fosse impelida a concordar, mas tendo em conta o que vi, o que me parece é que
os nossos jovens apenas precisam de um “empurrãozinho”, idêntico àquele que
precisamos quando aprendemos a andar de bicicleta ou de patins. Chegar aqui e
ver esta imensidão de jovens todos reunidos num mesmo propósito, sintonizados
numa comunhão de amor e partilha fez-me acreditar que há muita esperança nestes
jovens e afinal também compromisso!
AO - Como surge esta oportunidade de ser voluntária para a JMJ?
AMM
- Para começar, acho que foi, antes de mais, a
possibilidade de reviver uma memória de infância, quando fui, com os meus pais,
ver o Papa João Paulo II, e proporcionar essa experiência também à minha filha,
desta vez com o Papa Francisco. Depois, tendo em conta que a Paróquia de
Azeitão, que frequentamos quando estamos em casa dos meus pais aqui no
continente e que esta iria acolher peregrinos, logo se gerou em mim um enorme
entusiasmo em participar. Ademais, sendo a minha irmã mais nova um elemento
muito ativo nesta paróquia, logo fomos todos “contagiados” pela alegria da
participação nesta dinâmica de partilha e serviço.
E
aqui estou, como voluntária paroquial, extraordinariamente acolhida (ainda que
numa fase preparatória apoiando à distância, a partir da Terceira), dando o meu
contributo pessoal, entregando-me ao serviço do outro, e tentado incutir este
exemplo de vivência da fé junto da minha filha e dos que me estão próximos.
AO
- Como nos pode descrever esta experiência?
AMM
- Quanto mais quero encontrar as palavras certas
mais me falha o vocabulário para descrever o que tenho estado a viver com esta
experiência, por esse motivo talvez a apelidasse de indescritível, divina…
É
um estado de comunhão, de encontro, de alegria, de amor ao próximo, aquilo que
se vê em cada jovem que canta com um entusiasmo inacreditável, que grita “esta
és a juventude del papa”, que se ajoelha para rezar, que procura sintonizar-se
com Jesus na confissão (e sim! foram muitos, mas muitos os jovens que vi a
confessarem-se, contrariando que este sacramento está “fora de moda” ou é
dispensável à luz do pensamento jovem!). Talvez tenha sido este um dos gestos
dos jovens que mais me tocou! Uma enorme manifestação de coragem, de humildade,
assumindo o que os “abafa”, mas libertando-os com esperança e determinação para
o futuro!
E
perante este cenário ímpar, como se transpõem para palavras sensações, emoções,
pensamentos e estados de alma tão ricos e maravilhosos como aqueles que pude
viver por aqui! Senti os jovens “sintonizados”!
AO
- Em pleno mês de agosto, com temperaturas acima dos 30 graus e no meio de uma
multidão imensa, são precisos muitos auxiliares na área da saúde?
AMM
- Sim, imensos! Todos são chamados a dar do que
têm! São várias as ocorrências de saúde, que, de forma mais comum surgem na
procura de auxílio. O calor e o cansaço
são 2 aliados poderosos, mas pouco amigos dos peregrinos. Os voluntários da
área da saúde estão por todo o lado e mostram sorrisos e ternura, transportando
nas mochilas que muitos trazem as costas, tudo o que possa ser necessário para
ajudar. Mas o que vi, sobretudo em ambientes mais humanamente preenchidos foi
uma fantástica atitude de ajuda, onde todos se mobilizavam para que o socorro
fosse o mais célere possível. Cordões humanos para passar quem precisava de auxílio,
colos que se dispunham a transportar não importando o peso, palavras de alento cujo
efeito terapêutico era muito superior a antibióticos, cadeiras que se
empurravam por caminhos tortuosos para que ninguém ficasse para trás. Enfim… a
vivência do verdadeiro espírito de fraternidade onde TODOS têm o seu lugar.
AO
- Quais têm sido as ocorrências mais frequentes?
AMM
- O mais comum são as mazelas decorrentes do
esforço intenso de longas caminhadas, nomeadamente as bolhas nos pés, dores
musculares, resfriados de quem aguenta o calor intenso durante o dia e o
arrefecer da noite, algumas queimaduras solares.
AO - Como estão organizados os postos de socorro?
AMM
- Existe antes de mais uma organização a nível de
cada diocese. Depois ao nível das paróquias de acolhimento há um protocolo de
atendimento e de atuação para cada situação que possa surgir junto dos
peregrinos. Posteriormente é ajustada uma escala com os voluntários no âmbito
da saúde que se disponibilizaram para prestar o auxílio e/ ou fazerem a triagem
da gravidade da ocorrência de saúde.
Nos
espaços dos eventos, a Proteção civil, os bombeiros, e voluntários estão em
permanente circulação pelos espaços onde se encontram os peregrinos.
AO
- O que leva da JMJ para os Açores?
AMM
- Levo a alegria, levo o entusiasmo, levo cá
dentro o modelo de uma vida mais feliz quando vivida neste contexto de fé. Levo
o testemunho deste AMOR incomensurável que Jesus Cristo tem por nós e para nós.
Quero ser mais e melhor a transmitir estes valores que o Papa Francisco partilhou
connosco. Uma igreja para TODOS, TODOS, TODOS, “sem maquilhagem”!
AO
- Será uma professora de geografia e enfermeira diferentes depois desta
experiência?
AMM - Absolutamente!!! Ninguém fica
indiferente a esta presença humana, à luz e à energia que brota deste Homem que
nos faz tocar em Jesus Cristo, como quem abraça o seu amigo, o seu amor. Ninguém,
e decerto que os cerca de 800.000 jovens hoje presentes na Via Sacra, não saem iguais
depois de um acontecimento tão marcante como este! Afinal ser católico não está
fora de moda, não somos ET´s, somos uma só igreja reunida, com uma imensidão de
jovens que estavam à procura de si, e encontraram-se, a si e aos outros numa comunhão
sem pressas. “E porque acreditaste, para sempre és feliz” (in Hino JMJ)