Recorde de voto por correio e outros "casos da campanha" em Espanha
20 de jul. de 2023, 17:11
— Lusa
A
Junta Eleitoral Central (similar à Comissão Nacional de Eleições em
Portugal) acedeu hoje a um pedido da empresa Correios para o prazo para
votar por correspondência, que terminava esta quinta-feira, ser alargado
por algumas horas, até às 14:00 de sexta-feira.Mais
de 2,6 milhões de eleitores, perto de 7% do total, pediram para votar
por correio, algo que a lei espanhola permite a todos os recenseados em
território espanhol. O número é um recorde, que até agora estava em 1,4 milhões nas eleições de 2016.Por
causa deste volume de pedidos, os Correios contrataram mais de 20 mil
pessoas para reforçar os serviços, 6.000 carteiros distribuíram
documentação de voto no fim de semana, milhares de lojas da empresa
estiveram abertas no sábado e domingo em todo o país e os horários foram
alargados até às 22:00 nos dias úteis.Segundo
dados de hoje dos sindicatos dos trabalhadores dos Correios, 91% das
pessoas que pediram para votar por correspondência já entregaram o voto
numa das lojas da empresa, onde obrigatoriamente os envelopes com os
boletins têm de ser deixados, após apresentação da identificação do
eleitor.O voto por correio esteve no
centro de debates e polémicas desde que as eleições foram convocadas
para 23 de julho, de forma inesperada, há menos de dois meses.O
líder do Partido Popular (PP, direita), a maior força da oposição
espanhola e que surge à frente nas sondagens, pediu aos carteiros, num
comício de campanha na semana passada, para "independentemente dos
chefes", distribuírem a documentação para votar, mesmo que tenham de
trabalhar "de manhã, à tarde e à noite", e prometeu que ele mesmo lhes
pagará as horas extraordinárias quando liderar o Governo, no primeiro
Conselho de Ministros que presidir.Estas
declarações de Alberto Núñez Feijóo, que no passado foi presidente da
administração dos Correios, foram criticadas por outros partidos, pelos
sindicatos e pela direção da empresa, que insistiram na fiabilidade do
processo, como é reconhecido internacionalmente, e acusaram o líder do
PP de ter adotado uma "estratégia ‘trumpista’[numa referência ao
ex-Presidente norte-americano Donald Trump]", para poder eventualmente
questionar os resultados das eleições.Feijóo
acabou por esclarecer no dia seguinte que não quis insinuar que há uma
tentativa de fraude ou de manipulação de votos, mas que simplesmente se
referiu a um "congestionamento" na distribuição dos Correios com base em
queixas de sindicatos.Apesar do
esclarecimento e atendendo ao volume de pedidos, o voto por correio
manteve-se presente e sob permanente escrutínio nos debates, nas
reportagens e no noticiário da campanha.Outro
"caso da campanha" das legislativas espanholas de 23 de julho foi "o
debate sobre os debates" entre candidatos nas televisões nacionais.Entre
o líder do Governo e recandidato ao cargo, o socialista Pedro Sánchez, e
o líder da oposição, Feijóo, houve um debate, depois de o atual
primeiro-ministro, em desvantagem nas sondagens, ter desafiado o
adversário para seis "frente-a-frente".O
debate foi em canais de um grupo privado de comunicação social, por
exigência de Feijóo, que questionou a imparcialidade da televisão
pública espanhola.Na quarta-feira houve o
segundo debate, na televisão pública, com Sánchez e os líderes da
extrema-direita e da extrema-esquerda (que poderão entrar no governo em
coligações pós-eleitorais), mas sem Feijóo.Ao
longo de semanas, com muitas críticas a Feijóo, os partidos, incluindo o
PP, debateram a possibilidade de incluírem na lei eleitoral uma
regulamentação para os debates, com obrigações de participação e um
papel definido para os canais de serviço público de televisão.A
realização de eleições em pleno verão, nas semanas de mais calor do ano
e com boa parte da população de férias, foi outro dos casos da
campanha, até pela coincidência, neste caso concreto, com uma onda de
calor que já registou recordes de temperatura em algumas regiões de
Espanha.Os socialistas têm ouvido
acusações de terem convocado as eleições para estas datas
intencionalmente, para o eleitorado descontente com o Governo atual não
ir votar. Defendem-se das acusações com os prazos da lei eleitoral, que
não permitiam antecipar as eleições para mais cedo, e sublinham que
flexibilizaram as regras e os prazos do voto por correio, para o tornar
mais ágil e acessível.Também neste caso os
partidos ponderam mudar a lei para proibir eleições em pleno verão,
como já acontece, por exemplo, na lei eleitoral regional da Andaluzia,
que estabelece que não se pode votar para o parlamento autonómico nos
meses de julho e agosto, precisamente, por causa das limitações e
perigos do calor.