Açoriano Oriental
Rádio é "resiliente" e tem capacidade para se adaptar ao digital
A rádio continua "resiliente", "com futuro" e tem tido a capacidade para se adaptar ao digital, embora ainda tenha muitos desafios pela frente, defenderam à Lusa académicos.

Autor: AO/Lusa

 

O dia Mundial da Rádio celebra-se anualmente em 13 de fevereiro, data proclamada pela assembleia-geral da UNESCO em 2011.

"Desde que surgiu a televisão que é anunciada a sua morte", recordou Luís Santos à Lusa, professor da Universidade do Minho, salientando que, apesar das novas plataformas, "tem-se adaptado às novas realidades".

Por exemplo, os programas da manhã das rádios, que acompanham as pessoas na sua saída de casa para o trabalho, "têm tido um apelo muito grande nas redes sociais", acrescentou.

No entanto, os projetos de rádio na Internet não ameaçam a rádio, mas obrigam a uma maior criatividade.

"O mais preocupante são as empresas de rádio não fazerem o uso distintivo do som", apontou, sendo esse um dos seus grandes desafios.

Relativamente ao modelo de negócio, Luís Santos referiu que "os jornais de papel são estruturas muito pesadas", o que já não acontece na rádio, pelo que é natural que alguns meios venham a apostar nas rádios 'online'.

Luís Santos sublinhou ainda que "as pessoas nunca pagaram para ouvir notícias de rádio", o que não acontece com os jornais.

"As rádios têm uma estrutura mais leve, mais ágil e os custos de produção são mais baixos", disse, acrescentando que "têm um outro tipo de flexibilidade que permite reagir de forma mais rápida" perante o futuro.

Isabel Reis, professora da Universidade do Porto, salientou que a UNESCO lançou como lema para o dia Mundial da Rádio deste ano "a Rádio és tu", o que, em seu entender, "exemplifica o que hoje é a rádio, espelha muito daquilo que somos, reflete a sociedade e a forma como vivemos o nosso dia a dia".

A rádio “está estruturada à volta de nós próprios", pelo que cada ouvinte pode ter a sua própria estação e ouvi-la em qualquer dispositivo, disse.

A rádio "tem-se adaptado aos nossos tempos, até mesmo com a Internet. É um meio resiliente que tem conseguido sobreviver e renovar-se", acrescentou Isabel Reis.

Um dos grandes desafios da rádio é conseguir fixar novas audiências, já que "os jovens não escutam muita rádio", preferindo serviços como o Spotify (serviço de música na Internet), por exemplo, entre outros.

Isabel Reis destacou que outro dos desafios é "criar equilíbrio entre a personalização", preferências específicas de cada ouvinte, e "os conteúdos generalistas".

A académica considerou positiva a rádio na Internet: "Acho que é bom porque diversifica".

"É o meio mais resiliente. Desde que a televisão nasceu que se fala da morte da rádio e ela continua. Fala connosco, informa-nos, pode ser ouvida em vários locais, é participativa, a Internet só veio ampliar isso", considerou.

Relativamente aos 'podcast' (programas de rádio disponíveis 'online'), Isabel Reis considerou que "em Portugal não têm tido sucesso quanto isso".

Já para Pedro Portela, professor da Universidade do Minho, o facto de em Portugal não haver muita adesão aos 'podcast' até poderá ser uma "oportunidade para os produtores de rádio" apostarem, distribuindo para várias rádios.

Disse que, de acordo com o estudo que fez em 2015 na sua tese de doutoramento, ouvir rádio na Internet aumentou o tempo de consumo.

Para este académico, o digital pode ser tanto uma vantagem como desvantagem para a rádio.

No caso da produção, Pedro Portela destacou que o digital "torna muitas tarefas mais simples, como é o caso da sonoplastia".

Contudo, o digital também pode ser uma ameaça pela sua "autonomização dos processos”.

Pedro Portela considerou ainda que no futuro "vai haver um reajuste no mercado", diminuindo o número de rádios locais no mercado.

Mas uma coisa é certa: "a rádio como meio há de sempre continuar, tem uma capacidade de resiliência e acredito que vai manter-se relevante", concluiu.

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