Açoriano Oriental
Sociedade
Queria abandonar a escola na Terceira e hoje é professor nos EUA
Tony Rodrigues, natural da ilha Terceira, nos Açores, queria abandonar os estudos no 9.º ano, mas o pai levou-o para os EUA e hoje é professor de português e empresário de restauração.
Queria abandonar a escola na Terceira e hoje é professor nos EUA

Autor: Lusa/AO online

Aos 44 anos, Tony é chefe do departamento de línguas do liceu onde estudou, em Fall River, dando aulas de português, mas quando ainda era adolescente pensava em seguir outra profissão. "Cheguei ao 9.º ano e disse ao meu pai que não queria estudar mais, queria trabalhar com ele, que tinha um negócio de distribuição de pão, mas ele disse-me que, se eu não queria estudar, ia trabalhar com o meu tio como pedreiro, pelo que continuei na escola", recordou o emigrante açoriano em declarações à Lusa na Praia da Vitória, onde passa férias com frequência. Tony Rodrigues, além de professor de português, é empresário na área da restauração, tendo atualmente três restaurantes nos EUA, numa sociedade com o irmão mais novo criada "há praticamente 18 anos". "Começámos com um 'diner' que só servia pequenos-almoços e, há cerca de oito anos, abrimos um restaurante 'lounge'. Tivemos muito sucesso e, há quatro anos, abrimos outro em Dartmouth, afirmou, acrescentando que também serve casamentos, festas políticas, batizados e comunhões "todos os fins de semana". "Saio das aulas às 15:00, passo em casa para ver se está tudo bem e depois vou para o restaurante", frisou, admitindo que, apesar do pouco tempo que lhe resta, assiste a um jogo de futebol ou ao noticiário da RTP sempre que pode. O pai, natural de S. Miguel, casou-se com uma terceirense depois de cumprir o serviço militar na Terceira, mas, tal como muitos açorianos, decidiu procurar uma vida melhor nos EUA, onde trabalhou durante 20 anos numa fábrica têxtil. Tony Rodrigues deixou a Praia da Vitória aos 17 anos, mas sempre que pode regressa de férias, ainda que o tempo tenha de ser dividido com idas ao continente, de onde é natural a esposa. Atualmente, são os filhos, com 15 e 17 anos, que lhe pedem para vir aos Açores, ainda que nenhum dos dois saiba falar português. O emigrante açoriano admitiu que "não deveria ser assim", mas em casa é o inglês que predomina, apesar de tanto ele como a mulher ensinarem português na escola. "A maior parte dos meus alunos são de segunda e terceira gerações de emigrantes", afirmou, recordando que em Fall River reside uma grande comunidade açoriana, sobretudo da ilha de S. Miguel. Quando chegou aos EUA, Tony tinha receio de ser "rotulado" como português, mas acredita que agora os jovens já têm orgulho das suas raízes, salientando que, no liceu onde dá aulas, cerca de oito centenas de alunos aprendem português. "As antigas gerações de emigrantes, nos anos 60 e 70, não podiam falar português, porque tinham vergonha, mas hoje em dia os 'Cristianos Ronaldos' e a televisão abriram portas e vemos na escola alunos com camisolas portuguesas", frisou, referindo ainda que os filhos de emigrantes já participam em festas na comunidade e "adoram" a culinária portuguesa.

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