Açoriano Oriental
Programa de estágios nos Açores dá "visão mais realista" de mercado laboral, dizem os alunos

O programa Estagiar U, criado há mais de dez anos, acolhe todos os anos centenas de estagiários da Universidade dos Açores, que durante um mês são recebidos em empresas e recebem uma "visão mais realista" do mercado de trabalho.


Autor: Lusa/Ao online

O estágio, remunerado, sofreu diversas alterações no presente ano, nomeadamente no salário e carga horária, com a diretora regional do Emprego e da Qualificação Profissional, Paula Andrade, a sublinhar à agência Lusa que em causa está "uma bolsa de estágio e não um salário".

As 35 horas semanais foram reduzidas para 20 horas, quatro por dia, e consequentemente a remuneração caiu de 609 euros para 304,50 euros.

Em entrevista à Lusa, diversos estudantes comentaram as alterações do programa Estagiar U, valorizando o papel do mesmo como porta de entrada no mercado de trabalho, mas deixando algumas críticas.

Carolina Lima, que participou uma vez no programa, considera que através deste "existe, efetivamente, a possibilidade de ter uma visão mais realista do mercado de trabalho”.

Contudo, para a jovem, "muitas vezes esta visão é manipulada pelas próprias empresas que acolhem os estagiários".

A estudante considera que muitas vezes os estagiários exercem funções "não na área de formação", mas em "tudo" o que lhes é pedido na empresa que os acolhe, mesmo que tarefas não diretamente ligadas ao seu curso.

Relativamente às alterações efetuadas, a estudante de Relações Públicas e Comunicação não concorda com as mesmas pois "uma vez que o objetivo do estagiar U é o de os alunos universitários experienciarem a realidade do mercado de trabalho", a redução horária, para quatro horas diárias, "não os insere verdadeiramente no contexto de trabalho real".

Outra estudante de Relações Públicas e Comunicação, Mariana Pavão, que estagiou nos dois primeiros anos (o Estagiar U permite estágios nos vários anos da licenciatura), diz que "apesar de ter sido colocada na área de formação" a empresa "admitia estagiários de áreas completamente incompatíveis".

Enquanto futura licenciada, acha que o programa a ajudou a ver "o mundo de trabalho com outros olhos" e que a ajudou a "crescer profissionalmente".

A estudante propõe ainda que devia existir maior regulação do trabalho atribuído aos estagiários, através de visitas ao estabelecimento, pois as empresas "manipulam o estagiar U a seu favor, desrespeitando as regras do mesmo".

Em relação à mudança das condições do programa, Mariana não concorda com as mesmas, pois considera que para obter "uma experiência real do mercado de trabalho" é essencial "cumprir horários completos".

Estando no seu último ano de licenciatura, a estudante achou essencial "desempenhar funções realmente restritas" na sua área, dizendo mesmo que pôs o "crescimento profissional à frente de um estágio remunerado", ao optar por um estágio sem vencimento no presente ano.

Outro participante no programa há dois anos, João Almeida também não ficou colocado na sua área: enquanto estudante de Estudos Euro-Atlânticos ficou colocado na área de Ciências Farmacêuticas, numa farmácia da ilha de São Miguel.

O jovem sustenta ainda que se nota "um claro aproveitamento neste tipo de programa” das empresas em relação aos estagiários "que são colocados a desempenharem funções de necessidade permanente".

Apesar de se considerar "sortudo" por ter estagiado num local onde primou o respeito e preocupação pela "formação", João, açoriano de nascença, afirma conhecer "diversos casos em que os jovens foram tratados como peças descartáveis, desempenharam funções fora dos horários estipulados" e muitas vezes não sabiam as funções "que iriam desempenhar".

Outro estudante que participou há cerca de um ano, Tiago Silva, também não ficou colocado na sua área de estudo e considera mesmo que "na altura haviam poucas ou quase nenhumas empresas disponíveis" na sua área, também Estudos Euro-Atlânticos.

Considerando que obteve uma visão mais objetiva do mercado de trabalho, tanto "a nível positivo como negativo", acha que é possível adquirir "experiência que facilita futuras decisões", mas que por outro lado é notável perceber "o 'stress' a que alguns trabalhadores estão sujeitos por parte dos seus empregadores".

Para o estudante, as alterações efetuadas ao Estagiar U são agora "até mais acessíveis para os estagiários" pois, ao diminuírem a sua carga horária, "permitem-lhes disfrutar de outras atividades" e, como tal, é "natural que menos horas de trabalho representem menos dinheiro recebido".

Apesar de considerar que se pudesse "participaria na mesma, independentemente das alterações" ao programa, o jovem acha que "certos cursos têm mais facilidade a arranjar estágio que outros" e que os "contatos privilegiados de alguns" dificultam o acesso "a muitos outros".



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