Autor: Lusa/AO online
"Chamamos Saara marroquino ao que designou por Saara ocidental, porque sabemos que é marroquino. Não somos ocupantes", disse Abdelilah Benkirane ao pronunciar-se sobre uma recente decisão de um juiz espanhol relacionada com a questão do Saara durante uma conferência da imprensa conjunta com o seu homólogo português Pedro Passos Coelho no final da XII Cimeira Luso-marroquina.
No dia 9 de abril, o juiz da Audiência Nacional de Espanha, Pablo Ruz, processou 11 altos responsáveis militares e policiais marroquinos por crimes de genocídio cometidos no Saara Ocidental entre 1975 e 1992. Os visados no processo são ainda suspeitos da prática de detenção ilegal, torturas, assassínio e desaparecimentos forçados.
"Consideramos tratar-se de uma manobra política que tentaremos ultrapassar quando hoje se colocam as coisas dessa forma, porque as relações entre Marrocos e Espanha são muito fortes e importantes, e devem prosseguir no mesmo sentido", afirmou hoje o chefe do governo marroquino.
Ao dirigir-se à Europa e à região do norte de África, Benkirane apelou para a "sensatez" na abordagem à questão do Saara ocidental e admitiu ser "normal que existam feridas quando houve uma guerra", mas assegurou que se progride para uma "reconciliação interna" em Marrocos.
Vasto território com meio milhão de habitantes, o Saara ocidental é maioritariamente controlado por Marrocos desde a retirada do colonizador espanhol em 1975. Seguiram-se 16 anos de conflito armado entre as forças marroquinas e a Frente Polisário que luta pela independência saaraui.
Em 2007 Marrocos propôs um plano de autonomia para a região que foi rejeitado pela Polisário, que exige a realização de um referendo sobre a autodeterminação.
"Esse dossier foi recuperado algures... parte da nossa população foi infelizmente envolvida num conflito face ao qual nada podia fazer, e hoje a situação está a melhorar. Estamos a caminho de encontrar uma solução na qual todos participarão, e que resolveria o problema de forma definitiva", garantiu.
"É por isso que não encaramos da mesma forma essas situações, e por vezes existe infelizmente quem tente perturbar o novo clima que está em vias de se instalar na região, com o objetivo de impor a paz, a estabilidade entre todos os povos da região", acrescentou o primeiro-ministro marroquino.
Ao pronunciar-se sobre esta questão, Pedro Passos Coelho recordou o apoio de Portugal aos "esforços do secretário-geral das Nações Unidas para que seja alcançada uma solução duradoura e mutuamente aceitável" e às resoluções do Conselho de segurança da ONU.
No plano humanitário, o chefe do governo português sublinhou o apoio às iniciativas do alto-comissário da ONU para os refugiados "que têm visado promover contactos entre os saarauís no contexto do programa das medidas designadas de confiança" e os meios diplomáticos que têm sido disponibilizados.