Primeira fase da revisão da Constituição quase concluída mas com desfecho ainda incerto
12 de jun. de 2023, 08:45
— LUSA/AO online
O 12.º processo de revisão da Constituição da
República Portuguesa (só sete foram concluídos com sucesso) foi
desencadeado com a apresentação de um projeto do Chega, em outubro do
ano passado, seguido por todas as bancadas e deputados únicos, num total
de oito projetos e 393 propostas de alteração, revogação e aditamento
de artigos à lei fundamental.Desde que
tomou posse, em 04 de janeiro deste ano, a comissão eventual realizou
perto de 40 reuniões, nas quais os partidos apresentaram as suas
iniciativas e fizeram uma primeira avaliação das propostas dos
restantes, artigo a artigo.Ainda antes do
verão, começarão audições de algumas entidades pedidas pelos partidos –
não mais de uma dezena e a maioria por escrito -, incluindo as
assembleias legislativas da Madeira e dos Açores, previstas por lei.Durante
todo o mês de setembro, os partidos poderão apresentar propostas de
alteração às suas iniciativas ou ao texto de outras bancadas, mas apenas
nos artigos que foram objeto de propostas na primeira fase, não podendo
‘mexer’ em novos artigos.Depois, e
presumivelmente após conversações entre os dois maiores partidos – a
revisão constitucional exige aprovação por dois terços, o que na atual
composição parlamentar implica voto favorável de PS e PSD -, começará a
fase decisiva de votação artigo a artigo.A
expectativa do presidente da comissão eventual, o social-democrata José
Silvano, é de que os trabalhos não se estendam para lá de 2023, já
tendo sido aprovado em plenário o prolongamento dos trabalhos até final
do ano.Em novembro do ano passado, o
secretário-geral do PS, António Costa, ‘fechou’ desde logo o âmbito de
uma revisão que o PSD pretendia mais ampla, ao anunciar que os
socialistas iriam rejeitar propostas sobre matérias institucionais,
alegando que essa discussão seria incompreensível para os cidadãos num
contexto de guerra na Europa.Costa recusou
também qualquer consenso à volta de alterações sobre as autonomias
regionais – matéria sobre a qual o PSD tem bastantes propostas –,
considerando que seria um desrespeito pelo trabalho que está a ser
desenvolvido nas assembleias legislativas dos Açores e da Madeira,
admitindo fazer, no futuro, um processo de revisão constitucional
extraordinário sobre essa matéria.O líder
socialista e primeiro-ministro delimitou, desde logo, o processo a três
áreas: aprofundar e consolidar direitos fundamentais, reforçar o Estado e
resolver questões “indispensáveis” ao nível da segurança,
designadamente os combates ao terrorismo e a pandemias.Pelo
contrário, desde o início do processo, o PSD tem alertado que, se for
apenas para alterar na lei fundamental o que o PS pretende, não dará o
necessário acordo e a revisão ficará, mais uma vez, pelo caminho.Esse
recado foi recentemente reforçado pelo presidente Luís Montenegro, nas
jornadas parlamentares da Madeira: “Só vai haver revisão constitucional
se for para mudar algumas coisas na Constituição, não é para mudar
apenas aquilo que o PS quer. O PSD não vai dar borlas constitucionais ao
PS”, avisou.O Presidente da República e o
presidente da Assembleia da República, Augusto Santos Silva, defenderam
como urgente neste processo reforçar a forma como o país pode enfrentar
novas emergências sanitárias como a covid-19 e, no caso de Marcelo
Rebelo de Sousa, uma possibilidade de ultrapassar o bloqueio no acesso
aos metadados pela investigação criminal, embora PS e PSD tenham
rejeitado esta ligação.A comissão eventual
já teve dois presidentes indicados pelo PSD: primeiro, Joaquim Pinto
Moreira, que renunciou ao cargo quando o seu nome foi envolvido na
investigação judicial “Operação Vórtex”, e depois José Silvano,
ex-secretário-geral do PSD na anterior liderança de Rui Rio.Se
for concluída com sucesso, será a oitava revisão da Constituição, quase
20 anos depois da anterior mudança (2005) e mais de dez após a última
grande tentativa de a alterar (2010/2011), falhada devido à dissolução
do parlamento.